quinta-feira, 28 de julho de 2022

Novidades em Streaming - Los Lobos

De: Samuel Kishi Leopo. Com Maximiliano Nájar Márquez, Leonardo Nájar Márquez, Martha Lorena Reyes e Cici Lau. Drama, México, 2020, 95 minutos.

Existe um quê de Projeto Florida (2017) no tom melancólico desse Los Lobos, pequena joia do cinema mexicano que receberia o Prêmio do Júri no Festival de Berlim do ano passado (e que está disponível na HBO Max). Talvez tenha a ver com a onipresença dos pequenos Max (Maximiliano Nájar Márquez) e Leo (Leonardo Nájar Márquez), dois irmãos de oito e cinco anos que cruzam a fronteira do México com os Estados Unidos acompanhados da mãe Lucia (Martha Lorena Reyes), em busca de melhores condições de vida. Além das crianças, outra semelhança com o projeto de Sean Baker tem a ver com a permanente melancolia, que só é suplantada pelo caráter lúdico da narrativa, com os pequenos mantendo a esperança em meio a desenhos esboçados em uma parede decadente e em brincadeiras escapistas. E há ainda a própria Disney que, assim como no filme de 2017, bordeja a obra. É um sonho das crianças aqui. Era um sonho lá.

Sonhos. O que parece mover os personagens, especialmente Lucia que, como mãe solo, se submete a um trabalho precaríssimo para poder prover o mínimo. E, pior do que isso, em terras estrangeiras. Sem conhecer ninguém, e com a desconfiança que paira no ar em um País, à época, governado pelo xenófobo Donald Trump. A recomendação aos pequenos é de que não arredem o pé de casa e respeitem uma espécie de "lista de mandamentos" que envolve desde não abrir a porta pra ninguém, manter a organização e não chorar. Sim, não chorar. Por mais triste que tudo seja. A Max caberá ainda a responsabilidade pelo mais novo. Confinados em uma espécie de cárcere particular, os meninos improvisarão brincadeiras como forma de passar o tempo, sejam elas jogos de futebol - ainda que o local seja um cubículo -, lutinhas e outros. Claro, não demorará para que, conforme os dias passem, eles fiquem entediados. E comecem a acenar para possíveis saídas a rua - sendo estimulados por alguns garotos da vizinhança.

Desalentador, o filme mostra como a suposta liberdade vai somente até um limite - mesmo em países que se vendem como democráticos. Com os preconceitos sempre prontos para vir à tona - e a sequência inicial, em que Lucia se empenha em tentar encontrar uma habitação, uma residência que possa chamar de sua, já dá esse tom. Resta o claustrofóbico, fétido e pouco convidativo espaço ofertado pela Mrs. Chan (Cici Lau), que se tornará vizinha da família. Ninguém está muito preocupado ou interessado em saber que há dois meninos e uma mãe subsistindo em condições de vulnerabilidade: na Terra do Tio Sam é o individualismo que prevalece. O cada um por si. A invisibilidade é a regra. A precariedade a realidade. É daquele tipo de filme que doi, mesmo quando os meninos começam a criar o seu próprio universo imaginário, que salta da tela no formato de animações improvisadas, cheias de mensagens cifradas e comentários valorosos, tão lúdicos quanto imponentes.

Com um aceno à autobiografia - o diretor admitiu em entrevistas que passou por situação semelhante em sua juventude, quando sua mãe mentiu estar entrando nos Estados Unidos para ir à Disney (só que não) -, a obra também promove pequenas mas relevantes discussões sobre maternidade solo, sobre dificuldades enfrentadas por imigrantes e sobre o fundamental senso de comunidade, que pode ser o caminho para algumas soluções (e é por isso que instantes tão pequenos, como o de Mrs. Chan oferecendo comida aos meninos - uma comida diferente, saborosa - são tão comoventes). Apostando ainda em um tom mais otimista no terço final, o realizador "abre as janelas", leva a família para a rua, retirando-lhes um pouco da precariedade do confinamento. A penumbra dá lugar à luz. Aos sorrisos. A Disney em uma intenção mais simbólica do que real, movida por gestos de grande sensibilidade. Comovente é pouco.

Nota: 8,0

Nenhum comentário:

Postar um comentário