De: Albert Dupontel. Com Virginie Efira, Albert Dupontel e Nicolas Marié. Comédia / Drama, França, 2020, 87 minutos.
O que, na realidade, trata-se de um processo mais ou menos simples, já que na trama acompanhamos três personagens que terão suas histórias entrelaçadas - e que precisarão unir forças, lá pelas tantas, para uma espécie de contra-ataque à morosidade do Estado, à sanha punitivista e ao sistema de trabalho que não hesitará em substituir um empregado apenas porque ele se tornou mais velho. Aliás, esse é o caso de Jean-Baptiste, o Monsieur Cuchas (Dupontel) que, aos cinquenta e tantos anos, à despeito de toda a sua competência no setor de TI da empresa que trabalha, é demitido. Em seu lugar entrará um jovem porque, enfim, esse é o fluxo da vida. Solitário e entristecido, ele está determinado a se suicidar - o que ele fará em seu próprio escritório, com direito a vídeo de despedida e tudo. Só que a coisa sai errado e ele erra o tiro que pretendia dar em si próprio com a sua gigantesca espingarda, atingindo um colega da sala ao lado. Todos se assustam. Inclusive Suze Trappet (Virginie Efira), que fica paralisada.
O caso é que Suze havia sido diagnosticada no mesmo dia com uma doença terminal que, muito provavelmente, é decorrente do abuso de laquês e sprays para cabelo do salão em que ela atua. Aliás, a forma caricata e pouco empática com que o médico dá a notícia à doente é digna das piores esquetes dos Pythons. O que faz lembrar também o tipo de humor que vemos em antigos filmes do Woody Allen, como no caso de A Última Noite de Boris Grushenko (1975) onde a finitude, naturalmente, é tratada com um deboche quase sem limites. Decidida a encontrar o filho que ela se viu forçada a abandonar na juventude, quando engravidou aos 15 anos, ela se unirá justamente com Cuchas: ela sabe o que aconteceu no escritório e poderá servir de testemunha para lhe limpar a barra com a polícia. A contrapartida do pretenso suicida: invadir sistemas de informática que lhe permitam encontrar alguma informação sobre o parto (e assim achar as pistas que lhe levem ao filho "perdido").
À eles se juntará um arquivista cego (Nicolas Marié) - e aqui entra mais uma daquelas piadinhas sobre pessoas com deficiência e o acesso ao mercado de trabalho. Não chega a ser trágico, mas também não é genuinamente cômico. Nesse rocambole de acontecimentos, o trio irá pra lá e pra cá enquanto foge das autoridades e faz um passo a passo na busca por informações do paradeiro do jovem - o que incluirá visita a um médico que sofre de Alzheimer. Em meio a tudo uma espiral de maluquices que vai no limite do nonsense e que flerta com o realismo mágico de Borges (como na sequência da escada em espiral infinita ou no momento em que elevadores sobem e descem alucinadamente). O que nos conduz ao terço final, que funciona como uma espécie de homenagem aos esquisitões (ou aos nerds de óculos e a sua completa incapacidade de socializar). É pouco? Bom, talvez seja. É histriônico? Sim, muito. Provoca gargalhada a partir da tragédia? Em partes. Traz uma ou outra discussão mais relevante? De alguma forma. Mas, vá lá, numa quinta à noite despretensiosa em só queria me divertir. Escolhi na plataforma Filme Filme uma obra aleatória. Cheia de aleatoriedades sobre a vida. E deu.
Nota: 7,5
Nenhum comentário:
Postar um comentário