segunda-feira, 1 de março de 2021

Cine Baú - O Silêncio dos Inocentes (The Silence of the Lambs)

De: Jonathan Demme. Com Jodie Foster, Anthony Hopkins, Scott Glenn e Ted Levine. Suspense / Policial, EUA, 1991, 118 minutos.

O Silêncio dos Inocentes (The Silence of the Lambs) é um suspense policial com o DNA dos anos 90. Pra começar tem uma dupla de antagonistas - vivida por Jodie Foster e Anthony Hopkins -, que se alternam em diálogos cheios de virtuosismo enquanto esbanjam, cada um a sua maneira, uma boa dose de carisma. Depois, há um vilão engenhoso (vivido por Ted Levine), que reforça o caráter maniqueísta da narrativa - afinal de contas, naquela época, era bem mais fácil odiar um depravado (e perturbado) transexual, que dilacerava suas vítimas. Há ainda o componente patriótico representado pelo desejo da jovem Clarice Sterling (Foster) de se tornar integrante do FBI. Há ainda o ambiente machista e a sexualização da coisa toda, com os olhares "famintos" dos homens em geral em direção à protagonista, como uma espécie de metáfora mais que perfeita para o canibalismo do excêntrico Hannibal Lecter, que passa seus dias no subsolo macambúzio de uma prisão de segurança máxima.

Seria ainda possível falar dos figurinos, dos tons pasteis, de um ou outro exagero alegórico que talvez não funcionasse tão bem nos dias de hoje, mas... os tempos eram outros. E, de alguma forma, a obra baseada no livro de Thomas Harris segue como uma das mais psicologicamente tensas experiências cinematográficas já realizadas. Não há aqui grandes excessos gore. Não há sangue e vísceras voando pelos ares. Ou jump scares aleatórios. Não há penumbra permanente ou outros elementos do desenho de produção que reforçassem algum tipo de mal estar generalizado. No caso dessa pequena obra-prima de nossos tempos, o terror está muito mais na sugestão. Na expectativa de algo que parece sempre prestes a acontecer - e a gente sabe que vai acontecer. Do dito pelo não dito. Da provocação. Da incerteza sobre o que virá ali adiante. Quem vai sofrer? Quem vai viver?

E a meu ver esse senso de horror iminente não pode ser melhor representado pelo fato de que, mesmo preso, o psiquiatra Hannibal Lecter (Anthony Hopkins) represente uma tenebrosa ameaça. Uma força do mal sempre pronta a explodir ao menor deslize. Como numa espécie de contradição entre os seus modos plácidos, sua voz calma, seus olhos azuis e as suas vestes sóbrias, a intensidade de suas ações parece no limite da violência imprevisível ou da reviravolta intempestiva. Escalada para investigar um novo assassino em série que tem tocado o terror ao atacar mulheres, para depois dilacerar as vítimas retirando parte de suas peles, Clarice vai o encontro de Hannibal, já que integrantes do FBI acreditam que o personagem de Hopkins possa auxiliar na compreensão da psique do sujeito, que responde pelo apelido de Bufallo Bill (Levine). E, é claro, sabemos que Hannibal não entregará qualquer tipo de informação de mão beijada, o que desencadeará uma sequência de eventos tão tensos quanto memoráveis.

É, ao cabo, uma obra lindamente costurada, com uma série de sequências icônicas - muitas delas, parodiadas ou imitadas (como na parte em que Hannibal surge para um encontro com uma senadora, utilizando a sua inesquecível "focinheira"). Tendo como uma de suas forças os já citados diálogos - gosto muito da parte em que Hannibal avacalha o suposto provincianismo de Clarice -, a película também tem nas grandes intepretações uma de suas marcas registradas. Nesse sentido, não foi por acaso que Foster e Hopkins viriam a faturar o Oscar nas categorias Atriz e Ator. Aliás, sobre o carecão dourado, a obra conseguiria algo raro: ganhar os cinco principais prêmios - além dos atores, a distinção para Filme, Diretor e Roteiro Adaptado (Ted Tally), repetiria um feito alcançado apenas pelos clássicos Aconteceu Naquela Noite (1934) e Um Estranho no Ninho (1975). Já em listas de melhores, o filme é também figurinha fácil, surgindo em relações como a do American Film Institute (com o o 74º Melhor Filme Estadunidense de Todos os Tempos) e em livros como 1001 Filmes Para Ver Antes de Morrer. Clássico é pouco.

Nenhum comentário:

Postar um comentário