sexta-feira, 19 de março de 2021

Pérolas da Netflix - Shaun: O Carneiro - O Filme: A Fazenda Contra-Ataca (Shaun the Sheep Movie: Farmageddon)

De: Richard Starzak e Will Becher. Com John Sparkes e Justin Fletcher. Animação / Aventura / Comédia / Ficção Científica, EUA / França / Reino Unido, 2019, 86 minutos.

Quem me acompanha aqui no Picanha sabe do meu fascínio pelas animações em stop motion - e da consequente dificuldade de analisá-las de uma forma mais "justa". Sim, eu sei que todos os filmes envolvem um longo trabalho que vai pré-produção ao corte na final na ilha de edição - uma função que, em muitos casos, leva anos para ser concluída. Agora, imaginem vocês, um grupo de pessoas se prestar a pegar uma quantidade de objetos, de bonequinhos e de outros itens quase infinitos para fotografá-los, quadro a quadro, gerando não apenas a sensação de movimento, mas como, contando, efetivamente, uma história? Com começo, meio e fim? Com alguma lógica, que tenha graça, que seja relevante ou divertida? E talvez tudo isso explique o fato de Shaun, O Carneiro - O Filme: A Fazenda Contra-Ataca (Shaun the Sheep Movie: Farmageddon) ter entrado de última hora entre os indicados ao Oscar, na categoria Animação. Trata-se, ao cabo, de um trabalho admirável. Desafiador.

E, sinceramente, não é "passar pano" para os pequenos defeitos que a obra dos diretores Richard Starzak e Will Becher possa porventura ter. Mas, sim, compreender a mágica pretendida por um grande coletivo de pessoas que busca gerar entretenimento, fazer rir ou emocionar, utilizando massinha de modelar e algumas câmeras fotográficas - sim, estou sendo reducionista, mas vocês entendem meu ponto. Partindo dos eventos que marcaram a primeira aventura de Shaun e seus amigos - que se perdem na cidade -, o grupo de ovelhas ocupa seus dias tentando se entreter (sendo sistematicamente barrados pela postura meio ditatorial do cachorro Bitzer). O tédio no local é quebrado em uma noite aleatória em que os bichinhos tentam pedir uma pizza e acabam atraindo, por engano, um jovem e alvoroçado alienígena (seu nome é Lu-La) que cai com sua nave nas redondezas. O objetivo do grupo será o de devolver o ser intergalático para o espaço, antes que ele seja capturado por uma organização com intenções meio escusas.

Sim, pode soar meio bobinho - às vezes até infantil demais. Mas assim como no primeiro filme, para cada gag abusadamente visual em meio a um festival de cores e de acontecimentos aleatórios, surge algum tipo de referência nerd/pop/cultural que acertará em cheio o coração dos adultos que resolvem seguir a jornada de Shaun. Uma das minha preferidas, por sinal, é aquela que evoca a famosa fotografia Lunch Atop a Skycraper (ou Almoço no Arranha-Céu), que foi tirada em Nova York, no começo dos anos 30. Na animação, a inusitada cena surge em um instante de poucos segundos, quando os carneiros fazem uma parada em meio a construção de uma estrutura faraônica que visa a atrair algum objeto voador não identificado à propriedade - um dos objetivos do fazendeiro para levantar alguma grana, que lhe possibilitará a aquisição de um tão sonhado maquinário agrícola novo.

Mas há outras e divertidas referências que vão de clássicos como ET: O Extraterrestre (1982) - a cena da lua sendo cortada é um improviso ótimo! -, Contatos Imediatos do Terceiro Grau (1977), Sinais (2002) e, a mais óbvia de todas, a de 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968). Já a série Arquivo X é lembrada apenas com uma referência maravilhosa à trilha sonora, que faz rir e surpreende em igual medida. Graciosa, a animação também agrada a qualquer público pela fofurice (e pelo carisma) dos protagonistas, sendo praticamente impossível não torcer para que tudo saia a contento, enquanto percorremos uma jornada que traz importantes lições sobre amizade, valores familiares e respeito às diferenças. Não, não vai mudar o mundo ou gerar impacto como é com os produtos da Pixar. mas é agradável, traz cor, leveza e ainda pode ser facilmente acessada na Netflix - o que ajuda bastante quem pretende completar a maratona do Oscar!

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