De: Dani de la Orden. Com Álvaro Cervantes, Susana Abaitua, Luis Zahera e Aixa Villagrán. Romance / Comédia. Espanha, 2021, 102 minutos.
“Quem quer dá um jeito, quem não quer, arruma uma desculpa!”
“Não corra atrás das borboletas, cuide do seu jardim e elas virão até você!”
“Foco, força e fé”
Você já deve ter escutado as frases acima de algum amigo, coach ou influenciador. Todo mundo conhece o tipo, pode ser o/a amigo/a good vibes, o day trader que promete um enriquecimento mágico em poucos meses ou algum guru do marketing digital. Todos perfis tão rasos, tão genérico-simplistas e com argumentos tão ficcionais que parecem saídos diretamente das telas do cinema ou do seu serviço de streaming predileto. Quando nos deparamos com essas figuras, geralmente em propagandas ou anúncios indesejados, ato contínuo fechamos o vídeo ou rolamos nossa tela o mais rápido possível. Contudo, às vezes, damos aquela espiadinha, uma breve e desiludida chance para o conteúdo “quântico” ou “estratégico”, afinal, somos curiosos e, também, nem tudo precisa ser tão ruim. Um título apelativo, um bem-apessoado qualquer, uma música interessante e um jogo de luzes já são o suficiente para chamar nossa atenção. É assim que também somos fisgados por grande parte dos trailers cinematográficos de filmes duvidosos. E foi assim, como num rompante otimista, que decidi dar uma chance a Loucura de Amor (Loco por Ella), filme produzido e disponível no catálogo da Netflix.
E é no melhor estilo Fiuk do BBB 21 que ficamos conhecendo Adri (Álvaro Cervantes), o curioso e equivocado protagonista da trama. O jovem adulto, solteirão, bonito e dono daquele papo clichê digno dos melhores esquerdomachos disponíveis, encontra a misteriosa Carla (Susana Abaitua) em um bar e, depois de uma noite intensa, com direito à invasão de casamento alheio e ocupação indevida de quarto de núpcias, é deixado na calçada somente com a roupa do corpo e um coração absolutamente apaixonado pela mulher que acabou de conhecer. A sequência é o que se espera de todo homem preso na adolescência: uma busca implacável e totalmente inconsequente pela moça desconhecida. Adri finalmente encontra Carla em uma situação, digamos, bastante peculiar, em um hospital psiquiátrico, em meio ao tratamento de Transtorno Bipolar. Então, em um acesso de romantismo desmedido, resolve internar- se e acaba paciente do lugar junto com a recém-amada. Há, a partir de então, mais uma sequência de estereótipos. Adri recusa-se a participar da rotina do hospital, jurando aos médicos e enfermeiros não estar com problemas, pois tudo fora apenas uma estratégia maluca para alcançar seus objetivos (que descobrimos não ser somente a busca pelo verdadeiro amor).
A trama parece seguir para a mais completa repetição de clichês, no melhor estilo dos enlatados americanos, quando somos apresentados aos coadjuvantes da narrativa, todos pacientes do local, cada um com seu drama particular e com suas dificuldades. É bonita e respeitosa a forma como são abordados os problemas que observamos. Conhecemos, por exemplo, Marta (Aixa Villagrá), mulher com Síndrome de Tourette que tenta, de modo muito desajustado, conquistar outro jovem com Transtorno Obsessivo Compulsivo, gerando cenas engraçadas e sensíveis. Nos emocionamos com Saúl (Luis Zahera), que mente à filha, para que ela não saiba que o pai está “louco” e assim possa se orgulhar dele. É difícil não gostar daquelas pessoas. Todas elas nos causam profunda empatia e, aos poucos, a história de Adri e Carla vai ganhando, e por vezes até sendo deixada em segundo plano, cores e tons ora coloridos, ora obscuros, com a percepção do jovem apaixonado que distúrbios psicológicos não são “falta de vontade”, ou “maluquice”, “falta de Deus” ou “fraqueza”.
Este momento de entendimento, de choque de realidade, teria sido hora perfeita para o filme acabar com uma mensagem menos comum. Mas todo conteúdo que tem cara de clichê, jeito de clichê e parece muito com um clichê é, no final das contas, por mais que se esforce para ser diferente, um grande clichê. Apesar da história do romance óbvio, a obra tem ótimos momentos, especialmente com nossos amigos coadjuvantes e seus instantes curiosos, engraçados e sensíveis. O trailer colorido e intenso, o nome apelativo, a trilha marcante só comprovaram que o óbvio também pode ser bom, poderia ser melhor, mas ainda assim permanece agradável e divertido. Vale o otimismo.
Nota: 5,5
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