sexta-feira, 26 de março de 2021

Novidades no Now/VOD - O Mistério do Poço (En El Pozo)

De: Bernardo e Rafael Antonaccio. Com Paula Silva, Augusto Gordillo, Luis Pazos e Rafael Beltrán. Drama / Suspense, Uruguai, 2018, 82 minutos.

O Mistério do Poço (En El Pozo) foi a tentativa mais ou menos bem sucedida do Uruguai, de fazer um daqueles filmes em que um grupo aleatório de adolescentes se reúne em algum lugar isolado - muitas vezes o cenário ideal para que coisas estranhas comecem a acontecer. A gente já viu esse tipo de obra milhares de vezes em Hollywood. Aliás, no cinema de terror de baixo orçamento, esse costuma ser um filão que tem seu público cativo e, não quero parecer presunçoso, mas creio que dificilmente seria atraído para um projeto do tipo, se não fosse um filme sul-americano. Afinal de contas, em espanhol, alguns clichês do gênero "drama de suspense juvenil que vai descambar para o terror e para a violência", poderiam ser melhor aceitos. E até acho que é o que acontece aqui, ainda que a empatia pelos personagens que acompanhamos em cena beire mais ou menos a ZERO (o que significa que, lá pelas tantas, pouco importa o caos) e muitas soluções soem estupidamente irreais. Enfim, mas é o que temos.

Quando o filme começa, somos rapidamente apresentados a um coletivo de amigos que não parece assim tão conectado - e é justamente as diferenças que surgirão, aqui e ali, que pontuarão alguns dos melhores momentos da narrativa. Alicia (Paula Silva) é a jovem que está visitando a família no povoado de Suárez, distante da capital, por causa do falecimento da sua avó. Junto dela, o namorado Bruno (Augusto Gordillo) é o deslocado sujeito de classe média de ares elitistas, que se vangloria por poder comer sushi, que não gosta de excesso de barulho, e que mantém um discurso progressista provavelmente meio de fachada. O quarteto é completado pela dupla Tola (Luis Pazos) e Tincho (Rafael Beltrán), este último com algum tipo de interesse em Alicia, que talvez fosse uma namorada de infância. O cenário: uma pedreira desértica abandonada que fica a dez quilômetros da "civilização", que acabou por formar uma espécie de piscina natural, após anos de inatividade.

Como balneário improvisado, o local é o escolhido pelos jovens para um domingo de sol, de churrasco e de cervejada. Mas a vertigem ocasionada pela excêntrica sensação de isolamento, aumentada pelo calor escaldante, pelo zumbido interminável de insetos, pelos cenários rochosos e inóspitos, transformará o que era pra ser um tranquilo encontro em uma trama tensa e trágica, especialmente após algumas verdades entre eles começarem a vir à tona. Como espectador, confesso que me frustrou um pouco o caráter meio oco dos diálogos - não que jovens na faixa de vinte anos tenham muita profundidade. Mas pouco se aproveita entre uma sacanagem de quinta série aqui, uma piada de mal gosto acolá e algumas doses de masculinidade frágil prontinha pra emergirem em forma de ataques e de agressões. Até mesmo um simples jogo de futebol - um bate bola que nem parece saído do País que nos deu Suárez e Cavani -, é motivo de uma esquisitíssima discussão.

De qualquer maneira, esta é a forma que a dupla de diretores Bernardo e Rafael Antonaccio encontrou para ir ampliando a tensão, conforme aquele dia de calor caudalosamente sufocante passa. De alguma forma isso dá certo em alguns momentos. Por exemplo, em certo momento, os amigos pulam de uma barragem para um mergulho em águas mais profundas e se deparam com a presença de ferros de construção sob as águas. E a escolha de um personagem, especificamente neste momento, nos deixa bastante agoniados. No mais a película avança de uma forma que sabemos que as coisas, ali adiante, sairão do controle. Um carro que fica sem bateria. A noite que se avizinha. Uma faca que não deveria existir. É o filme de jovens estúpidos fazendo coisas estúpidas. E que, sinceramente, às vezes nos deixa bastante desesperançosos. Especialmente quando constatamos que aqueles que ali assistimos, poderiam existir de verdade. No mais, vale pelo arrojo uruguaio em sair do cinema crítico/social, que é uma de suas marcas em festivais internacionais. Mal não faz.

Nota: 6,0

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