É até estranho, mas as memórias mais marcantes que tenho da MTV Brasil, que encerrou suas atividades em 2013 e hoje é mais conhecida pelos reality shows adolescentes enlatados, não são de músicas. Todo adolescente ou jovem (sortudo) que tivesse algumas tardes livres, entre uma atividade extracurricular e outra, parava para assistir e aguardar ansiosamente o seu videoclipe favorito, especialmente nos saudosos Disk MTV e MTV Top 20, com os clipes mais votados do dia e da semana. Esse período forjou muitos jovens, que riram com as clássicas bobajadas do Foo Fighters em Learn To Fly e All The Small Things do Blink 182, que dançaram em frente à televisão com o super hit Hey Ya! do Outkast, que se emocionaram com a tristíssima Wherever You Will Go da esquecida One Hit Wonder The Calling e, claro, ficaram ouriçados com os vários voluptuosos clipes da musa daquela geração, Britney Spears.
Embora fossem inúmeros vídeos icônicos, que ainda perpassam por nosso imaginário nas mais nostálgicas noites, apenas um era aquele clipe: em meados de 2001, com uma estética sideral inovadora necessária para transformar a música em mera trilha sonora, junto com a narrativa rockstar-clubber alienígena, a dupla francesa Daft Punk lançava o hit One More Time que alugou um pequeno espaço em minhas preferências recheadas de pop punk, emo e pop rock brasileiro. A sonoridade até aquele momento desconhecida e um videoclipe sensacional não foram o suficiente para que eu pudesse me declarar um apreciador da música eletrônica, seja lá o que isso signifique em um universo de milhares de gêneros e subgêneros. Afinal, afirmar isto é tão abstrato e genérico quanto dizer que gosto de cinema ou de futebol.
Contudo, há duas semanas, fui surpreendido pelos produtores robôs. Seis anos após a publicação do seu último vídeo no YouTube, Guy-Manuel de Homem-Christo, dono do nome mais legal da música, convenhamos, e Thomas Bangalter, as duas faces por trás da emblemática indumentária do Daft Punk, anunciaram o encerramento da trajetória mais bem sucedida, inovadora e popular da música eletrônica. E, confesso, fiquei triste com a notícia. Não por me considerar um conhecedor e entusiasta dos samples e sintetizadores, mas porque, em 2014, quando tudo já era indie rock na minha vida, gastei parte do suado salário de professor do ensino básico para adquirir o, naquele ano ganhador do Grammy de Melhor Álbum, excelente Random Access Memories.
Daqueles discos viciantes que nos pegam pela mão e sutilmente nos guiam por um caminho sóbrio, aparentemente simples, porém de sonoridade complexa, Daft Punk faz coro à Olavo Bilac, Príncipe dos Poetas, ao versar sobre o trabalho árduo do artista: “Não se mostre na fábrica o suplício do mestre, porque a beleza, gêmea da verdade, arte pura, inimiga do artifício, é a força e a graça na simplicidade.”
Hoje, a era Daft Punk também é só uma memória, assim como a MTV Brasil. Não somente pelos vídeos icônicos, mas pelas boas músicas que aos poucos me fizeram sair da bolha. Agora, quem sabe, depois de semanas em looping, eu deixe o Random Access Memories em paz por um tempo.
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