terça-feira, 9 de junho de 2020

Tesouros Cinéfilos - Coração Valente (Braveheart)

De: Mel Gibson. Com Mel Gibson, Brendan Gleeson, Catherine McCormack e Patrick McGoohan. Drama / Aventura / História, EUA, 1995, 177 minutos.

Tem um pouco de tudo no clássico moderno Coração Valente (Braveheart), que completa 25 anos de seu lançamento agora em julho de 2020: ação, aventura, romance, drama, suspense, humor... é o cinemão por excelência na tradição das grandes obras concebidas por Hollywood e que numa rara equação, ao menos para os dias de hoje, alcançaria sucesso não apenas de público, mas também de crítica. Não é por acaso que a obra sairia como a grande vencedora do Oscar de 1996, com Mel Gibson consagrado não apenas como Diretor, mas também como Produtor. O filme, que volta no tempo pra contar a história do nobre caveleiro William Wallace que liderou uma rebelião no final do Século 13 que culminaria em uma grande guerra pela independência da Escócia, levou ainda para a casa as estatuetas de Fotografia, Efeitos Sonoros e Maquiagem (todo o mundo lembra da icônica pintura em branco e azul no rosto de Gibson).

Na internet há muitas críticas sobre as "liberdades criativas" tomadas por Gibson para a realização da película mas, bom, não teríamos uma obra de ficção que toma por base os fatos reais se tudo fosse seguido ao pé da letra. Um dos principais questionamentos envolve a personagens de Murron (Catherine McCormack) que, de acordo com historiadores, sequer teria existido. Mas para o filme ela é peça importante, por ser esposa de Wallace (Gibson), em um casamento ocorrido às escondidas, já que os pais da moça eram contrários à união. Após Murron ser brutalmente assassinada por integrantes do exército inglês liderados pelo tirano Rei Eduardo I (Patrick McGoohan), em uma emboscada em um vilarejo, é que tem início a jornada do herói. Wallace literalmente se alia ao povo indignado pela opressão da monarquia da época para reivindicar a liberdade suprimida, em meio aos temores reais de caos social que poderiam ser provocados por uma guerra civil.


É um contexto não muito fácil de ser compreendido, mas, sinceramente, isso é o de menos para a apreciação da obra. Há um mal representado por um Império militar que age de forma arbitrária, abusando do poder que tem sobre os clãs escoceses - o que pode ser visto em "políticas" absurdas como a da Prima Nocte, em que senhores de terra se davam ao direito de desvirginar jovens recém casadas, como forma de referendar um casamento entre servos. E há por outro lado um povo cansado de um sem fim de sofrimento - que no caso de Wallace existe desde a sua infância, já que seu pai morre em batalhas com a barbárie se espalhando pelos pequenos povoados (como no caso da cena em que dezenas de pessoas surgem enforcadas). Wallace fica emputecido com tanta injustiça, sendo a morte de Murron a gosta da água. De forma meio desorganizada, mas muito unida e apaixonada, o grupo de camponeses organizado pelo sujeito vai avançando, vencendo algumas campanhas, perdendo em outras, como no caso da Batalha de Falkirk. Destituir, afinal, um Governo tirano e autoritário não é tarefa fácil e isso, definitivamente, não será possível sem o derramamento de um caminhão de sangue.

Nesse sentido, a obra e Gibson é pródiga: as coreografias de batalhas são impressionantes, assim como a edição de som, com os barulhos de cavalos galopando, de espadas brandindo e de gritos ecoando, se misturando em meio a vastas planícies bem fotografadas. Aliás, o desenho de produção é também impressionante não apenas na recriação dos cenários da época (é divertido ver cidades como Edimburgo reimaginadas para o período), o mesmo valendo para o figurino, com o espectador reconhecendo facilmente as diferenças entre os imponentes trajes militares e as roupas quase esfarrapadas dos camponeses (numa metáfora para a situação real da Escócia na época, que chegava ao seu limite). Para quem gosta de filmes de ação e aventura, em que a "jornada do herói" fica claramente estabelecida - meio maniqueísta, mas é parte da diversão -, a obra é uma joia que vale a pena ser redescoberta. O drama relativo ao conceito de "vitória" também é subvertido dentro da narrativa, em meio a traições, gestos de amizade e camaradagem - e confesso que gosto muito de ver o Brendan Gleeson atuando. É filme de capa, de espada, de sangue, de suor, de lágrimas. E que nos deixa presos à cadeira nas três horas de duração. Que passam voando, por sinal.

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