O Wilco, não se pode negar, parece ser uma banda atenta àquilo que determinam as novas ferramentas tecnológicas, as redes sociais ou mesmo os formatos modernos de se consumir música. Ao menos foi essa a impressão que o lançamento de Star Wars, nono registro de inéditas dos americanos, deixou. Pra começar, o álbum foi disponibilizado no último mês de julho sem muito alarde, da noite para o dia, no site dos caras. Estando, logo depois, também apto a ser apreciado em plataformas de streaming, como Deezer e Spotify. Nada de videoclipe de divulgação, de single para apresentação prévia do novo trabalho, de anúncio de data de lançamento, de título, de nome do disco ou mesmo de ordem de colocação das faixas. Nenhuma imagem. Nada. Um disquinho novo na praça, sem blablablá.
Depois, o grupo ainda se prestou a chamar o registro de Star Wars, evidentemente uma clara galhofa relativa a ansiedade nerd que ronda o lançamento do sétimo filme da série comandada por George Lucas, e que deve dar as caras por aqui no mês de dezembro. De quebra, a capa ainda conta com uma imagem de um gatinho branco dos mais peludos. Quem nunca encontrou em sua timeline do Facebook algum vídeo ou foto engraçadinha dos felinos, sem muito esforço? Pois é, como já disse antes, é muito provável que haja aí uma uma dose de brincadeira (e de ironia, claro) em todo esse referencial proposto por Jeff Tweedy e companhia. E o que dizer do tempo de duração do disco, que não ultrapassa os 34 minutos? Só o duplo (e clássico) Being There, de 1996, possuía quase 1h20. Mas quem tem tempo de ouvir um álbum dessa envergadura nos dias de hoje?
Proposital ou não, atento ou não a toda a velocidade com que a rede e as pessoas navegam e consomem tudo o que está ao seu redor nos dias de hoje, é preciso que se diga que apenas um detalhe não mudou em relação ao sexteto de Chicago: a qualidade sonora. Se, no início da carreira, discos como AM (1995) e, mais especificamente, o próprio Being There seriam fundamentais para o fortalecimento do estilo que ficaria conhecido como Alt Country - e que já vinha sendo propagado no passado por veteranos como Neil Young, The Byrds e Big Star - atualmente, o Wilco parece ampliar o seu arcabouço de referências, se aproximando de grupos oitentistas como Echo and the Bunnymen, Pixies (já viu mais Pixies do que o fechamento com Magnetized?) e REM. Parte desse caminho levemente modificado, já pôde ser percebido em trabalhos anteriores, caso por exemplo, do irregular A Ghost Is Born (2004).
O mais curioso é perceber que, justamente aquilo que talvez pudesse soar como um movimento desastroso e retrógrado, é o que se apresenta como uma guinada importante da banda em direção a uma sonoridade ainda mais moderna, complexa e completa do que aquela feita anteriormente. Evidentemente que Star Wars não é um disco melhor do que o clássico e irretocável Yankee Hotel Foxtrot (2001), por exemplo. Mas chega muito perto ao se apresentar como um registro honesto, de qualidade instrumental e vocal e que nos coloca diante de uma banda em grande forma. Não à toa, a energia vibrante exibida nas dinâmicas More..., Random Name Generator e The Joke Explained, nos faz ter a impressão de estarmos diante de um grupo ainda em início de carreira e não ouvindo sujeitos que se aproximam dos 50 anos, com passo desacelerado e sem apresentar o mesmo vigor de antes. Talvez hoje ninguém ouça álbuns de 1h20. Mas prepare-se pra escutar Star Wars no repeat uma, duas, sete vezes. Vale muito a pena.
Nota: 8,0
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