segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Pérolas do Netflix - A Visitante Francesa

De: Hong Sang-soo. Com Isabelle Hupert, Yu Junsang, Yuhjung Youn e Yumi Yang. Drama, Coreia do Sul, 2012, 89 minutos.

Não é de hoje que o cinema da Coreia do Sul tem chamado a atenção, especialmente dos cinéfilos que procuram filmes pouco convencionais, não apenas em relação aos roteiros - quase sempre autorais -, mas também quanto ao estilo adotado - com sequências nada lógicas, muitas vezes oblíquas e repletas de elipses. Quem já assistiu a filmes de diretores como Park Chan-wook - dos espetaculares Oldboy e Zona de Risco - e Kim Ki-duk - um de meus favoritos, autor de obras-primas como Casa Vazia, Primavera, Verão, Outono, Inverno e... Primavera e Time - O Amor Contra a Passagem do Tempo -, sabe que o que interessa são as boas histórias que, quando bem contadas, adquirem um caráter universal, ainda que envoltas na atmosfera característica do local a qual pertencem.

Não é diferente com o diretor Hong Sang-soo. Ainda pouco conhecido no Brasil - inclusive deste blogueiro que vos escreve -, é dele a pérola recém disponibilizada na plataforma de streaming Netflix, A Visitante Francesa (Da-Reun Na-Ra-e-Suh). Verdadeiro exercício de estilo, o o filme nos apresenta a jovem Yonju que mora num balneário no sul do País. Com a intenção de espantar o tédio provocado por problemas familiares, ela escreve três roteiros de cinema tendo como personagem central uma francesa em visita ao local. Na primeira delas, a francesa, de nome Anne (Hupert), é uma cineasta de férias, ao lado de um casal amigo. Na segunda, a personagem é esposa de um empresário ricaço e amante de um homem ligado ao cinema. Na última, uma mulher recém divorciada, que procura um pouco de paz interior.


Em cada uma das histórias, Anne encontrará os mesmos personagens - um carismático salva-vidas, um casal em que a esposa está grávida, a recepcionista de uma pousada - e os mesmos objetos cênicos - uma garrafa quebrada, um guarda-chuva, o farol existente na ilha. Uma das brincadeiras dessa curiosa película é tentar organizar cada um dos elementos encontrados aleatoriamente, mas que no final contribuem para a formação de uma lógica única: a de que uma estrangeira em um País diferente, sempre é motivo de alvoroço. Especialmente se for charmosa como Huppert. E, especialmente, como não poderia deixar de ser, para os homens. Sem alterar a ideia central da narrativa, Sang-soo embaralha cada peça, promovendo aqui e ali pequenas alterações - sejam elas de ângulos de câmera ou de frases ditas de forma um pouco diferente para, com sutileza, modificar o caminho tomado por cada narrativa.

Com um estilo bastante peculiar de filmar - e que parece ser muito característico do diretor - Sang-soo ainda brinca com o que seria uma espécie de "amadorismo" estilístico, com o uso de diálogos (e comportamentos) caricatos, zooms muito velozes e cortes secos. Afinal, nunca podemos esquecer que a história está sendo escrita por uma jovem que, certamente inexperiente na linguagem cinematográfica, adiciona aqueles elementos que, para ela, poderiam fazer sentido dentro da composição. E os créditos iniciais, todos em caneta esferográfica, não deixam de ser um indicativo que parece corroborar com essa lógica. Com Isabele Huppert brilhando ao interpretar três mulheres iguais "mas diferentes", o filme tem a sua força justamente no formalismo que, é preciso que se diga, nunca soa forçado. E que, ao contrário, é capaz de tornar uma obra de aparência prosaica em um produto artístico superior.


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