sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Disco da Semana - Neil Young (The Monsanto Years)

Para aqueles que não estão ligados, a multinacional americana Monsanto é a líder mundial na produção do herbicida glifosato que, sob o nome comercial de Roundup, promete matar todo e qualquer tipo de praga que possa prejudicar a produção de sementes como trigo, soja, feijão, milho, aveia, cevada, entre outros. Não contente, a mesma empresa desenvolveu sementes geneticamente modificadas, mais resistentes ao uso do próprio glifosato. E ainda forçou os agricultores, indiretamente, a utilizar o tal "defensivo" em praticamente todas as etapas do processo, o que garantiria um cultivo mais rápido e em maior volume. Um verdadeira maravilha da ciência moderna, não? Sim, não fosse um pequeno detalhe. Estudos têm mostrado que o tal glifosato, se utilizado em excesso, pode causar mais de duas dezenas de assombrosas doenças, entre elas Mal de Alzheimer, autismo, cânceres de todo o tipo, esclerose múltipla, depressão, linfoma, doença cardíaca e Mal de Parkinson.

Sim, fica parecendo aquela canção dos Titãs, O Pulso, mas é apenas a lista de malefícios causados por um produto que, pasmem, tem seu uso permitido no Brasil e está em nossas mesas todos os dias, em praticamente tudo o que comemos. Aliás, no Rio Grande do Sul, a situação chega a ser pior, já que somos o Estado da Federação que mais consome agrotóxicos, chegando a impressionantes 8,3 litros ao ano, no total. OITO VÍRGULA TRÊS LITROS de agrotóxicos NO LOMBO, ao ano. Excesso ocasionado por uma série de fatores, que vão desde o manejo inadequado de agro-químicos, passando pela ambição de vendedores que só pretendem o lucro, até chegar na total falta de informação em todos as partes da cadeia. Algo que, ao que me parece, pouca gente está preocupada, já que projetos de Lei como esse, passam completamente batidos pelos tais grupos que protestam contra os problemas da nação.


Bom, passemos da parte científica (que, vamos combinar, entendo pouquíssimo), para aquilo que realmente interessa - e que finjo saber um pouco mais. Do Neil Young pode-se falar o que se quiser: que, aos 69 anos, a sua voz já não tem a potência de outrora, chegando a desafinar em alguns momentos. Ou mesmo que suas canções não tem mais a pegada country / roqueira dos insuperáveis discos de outrora, casos de After the Gold Rush, Harvest Moon, Zuma, On the Beach, Comes A Time (o meu favorito!) ou Tonight is the Night, chegando a soar um tanto anacrônicas. Agora, acomodado, ele efetivamente não é. Não à toa, lançou três álbuns do ano passado pra cá: A Letter Home, Storytone e, o mais recente, chamado The Monsanto Years que, como o título indica, pretende chamar a atenção para as atrocidades descritas nos parágrafos acima.

Young se cerca da banda Promise Of the Real, dos filhos do cantor country Wille Nelson, Lukas e Micah Nelson, o que garante a qualidade nas levadas country de cada uma das nove composições do artista canadense. Mas o destaque mesmo são as letras que protestam contra o caráter opressor da multinacional, especialmente no que se refere a sua relação com os pequenos produtores. When these seeds rise they're ready for the pesticide / And Roundup comes and brings the poison tide of Monsanto, Monsanto, entoa Young na melancólica canção que dá nome ao disco. Mesmo nos momentos mais aparentemente ensolarados, caso de People Want to Hear About Love, o artista brada: Don't talk about the beautiful fish in the deep blue sea, dyin' [...] Don't talk about the corporations hijacking all your rights / People want to hear about love, o artista não deixa de versar com veemência sobre o tema. Young pode até estar perto da tão sonhada aposentadoria vivendo no campo. Mas antes deseja que esse mesmo campo esteja LIMPO. O recado está dado.

Nota: 7,0

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