Não demorou a descobrir que se tratava do O Terno, uma gurizada de São Paulo que faz rock desde o ano de 2009, inspirada por nomes como Os Mutantes, The Beatles e The Kinks, além dos integrantes da Jovem Guarda já citados anteriormente. Meu próximo passo, após saber de quem se tratava, foi adicionar os discos do grupo no serviço de streaming, com o objetivo de explorar a sua sonoridade. Descobri uma banda descolada, distante daquele clima meio "bunda mole" que domina alguns segmentos da nova MPB (
Sem tempo pra falar de decepções amorosas ou ilusões do coração - ainda que eventualmente, alguma composição como Ai, Ai, Como Eu Me Iludo possa causar essa impressão - o negócio da rapaziada é se divertir, cantando letras pautadas pelo nonsense, influenciadas pelas mais variadas vertentes do cancioneiro nacional. No pequeno resumo a seguir, a gente fala um pouco sobre os dois álbuns lançados até o momento pelo trio, intitulados 66 (2012) e O Terno (2014). Ambos os trabalhos tendo aparecido em diversas listas de melhores de final de ano - caso da Rolling Stone nacional, que o colocou na 12ª posição entre os discos de artistas brasileiros no ano passado. Com parcerias com Nando Reis e Arnaldo Antunes e apresentações no Prêmio Multishow de Música Brasileira, a banda aos poucos vai se consolidando, se tornando conhecida e fincando pé entre os artistas mais bacanas da nossa música. E que são dignos de aparecer no nosso Pra Ouvir.
66 (2012)
Com dez músicas, o disco foi feito em família, com o auxílio do pai de Tim Bernardes, o cantor, compositor e saxofonista brasileiro, Maurício Pereira. - que chegou a integrar o grupo Os Mulheres Negras (com André Abujamra). Com estilo e produção mais crua do que viria a ser o registro seguinte, o álbum tem no instrumental direto ao ponto - mas sem perder a psicodelia de base roqueira - e nos versos entre o absurdo e o nonsense, o deboche e o sarcasmo, a sua força. A inacreditável letra de Zé, Assassino Compulsivo, é um verdadeiro exercício de criatividade, nem sempre fácil, é preciso que se diga, mas provavelmente pautada por uma gama de influências literárias e cinematográficas as mais variadas. Zé não era aquele cara que só faz o bem / Era alegre e bonito, mas tem um porém / Ele era um assassino compulsivo, é / Enforcou sua coleguinha quando era do pré, diz a letra. Pra ver que 66, com sua métrica incomum, não era um caso isolado. Ouça: 66, Zé Assassino Compulsivo, Morto e Quem é Quem.
O Terno (2014)
Mais bem produzido do que o trabalho anterior e com letras mais seguras, analíticas, cínicas e até mesmo contemplativas, o grupo parece se aproximar da maturidade musical, ainda que esteja ainda em início de carreira. O começo, com Bote ao Contrário, é tão Jovem Guarda, mas tão Jovem Guarda, que não seria surpresa encontrá-la em algum disco dos anos 70 do Tremendão. A influência aparece em outras canções, como na ótima (e irônica e debochada) Eu Confesso. Aliás, o deboche também surge nas improváveis Pela Metade e Vanguarda?, que dão conta da segurança do trio na hora de compor Brazil, com letra em inglês que brinca com a forma como os americanos enxergam o nosso País é um outro exemplo do arcabouço de referências trazidas pelo jovem Bernardes, que, além de tudo, canta como um veterano. Mas é com a último música do Lado B, intitulada Desaparecido, que os garotos d'O Terno mostram estar a frente de outros grupos, indicando ainda um caminho possível a ser seguido em futuros projetos. Ouça: Bote ao Contrário, Brazil, Eu Confesso e Desaparecido.
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