segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Disco da Semana - Mac DeMarco (Another One)

Poucos artistas modernos tem um estilo tão característico quanto o do cantor, multi-instrumentista, compositor e produtor Mac DeMarco. Uma nota, no melhor estilo do finado Qual é a Música?, parece ser o suficiente para identificamos todos os aspectos relacionados à obra do músico. Pra quem não está familiarizado com o canadense, que agora chega ao terceiro álbum, intitulado Another One, ele faz lembrar bastante o Pavement, mas se o Stephen Malkmus tivesse ido para o litoral, num fim de tarde, versar sobre desilusões amorosas diversas e sobre a melancolia de se ver a mulher de sua vida parar nas mãos de outro. Tudo com uma guitarra com o máximo que distorção, que se sobressai sobre uma base instrumental extremamente econômica, mas não menos impactante em seu propósito.

DeMarco é um cara simples em todos os aspectos e já tinha mostrado isso nos seus dois trabalhos anteriores - os ótimos 2 (2012) e Salad Days (2014). Seus clipes são toscos, seu comportamento é um tanto errático e a sua imagem mais parece a daquele magrão desleixado, com os cabelos sempre bagunçados que, na época do colégio, só queria saber de fumar maconha e curtir a vida numa buena, enquanto compõe e canta para os amigos. E o mais incrível: o clima que ele constrói em cada um dos seus trabalhos, repletos de uma leveza quase idílica, é plenamente capaz de acomodar o ouvinte em um amálgama de sonoridades familiares, em muitos aspectos próximas daquilo que se fazia nos anos 80, mas ainda assim cheia de personalidade e luz própria. O que não é pouco, é preciso que se diga.


Se os dois discos anteriores já eram econômicos e objetivos em seu propósito, neste, DeMarco supera a barreira da coesão, ao entregar um álbum com apenas oito faixas e pouco mais de 23 minutos de duração. Algo que não chega a surpreender, uma vez que, cada uma de suas canções, por mais efêmeras que possam parecer em seu conteúdo, encontram-se claramente condicionadas a um tempo em que tudo é muito rápido não apenas na vida, mas também no trabalho, no dia a dia, nos relacionamentos. Sendo o artista, no fim, uma espécie de catalisador para alguma calmaria ou reflexão. Will she / Love me again tomorrow? / I don't know / Don't think so lamenta um inseguro cantor na singela Without Me. Mesmo sentimento que permeia a faixa título: And though she says she does / And hasn't lost your trust / Who could that be / Knocking at her door?.

Nesse sentido, ainda que Another One represente um registro menor dentro do pequeno repertório do artista, é interessante notar que DeMarco parece, a cada novo lançamento, dialogar com uma parcela ainda maior de público. Por mais que, evidentemente, um álbum como esse não tenha, definitivamente, essa intenção. É daqueles mistérios do mundo da música que talvez esteja relacionado a algum tipo de identificação com o sujeito, suas letras, sua simplicidade. Afinal, numa reflexão simples, talvez muita gente quisesse ser o Muse, mas, mais fácil ser alguma outra coisa dentro de uma lógica de alcance universal. Mais acessível talvez. Sem complicações. Algo que o artista, com sua música repleta de lamentos litorâneos e recheados de alguma maresia melancólica, tem conseguido com louvor.

Nota: 8,0


 

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