As intenções do diretor sul-africano Neill Blomkamp, não se pode negar, costumam ser as melhores possíveis. Por meio de seu cinema de estilo bastante particular, costuma versar sobre problemas sociais diversos que vão desde o preconceito racial, passando pela xenofobia, até a opressão contra as minorias. Algo que pode ser visto nos anteriores (e ótimos) Distrito 9 - que chegou a receber uma justa indicação a Melhor Filme no Oscar de 2010 - e Elysium, que tinha, entre os atrativos, a presença dos brasileiros Wagner Moura e Alice Braga, em meio ao elenco hollywoodiano capitaneado pelo astro Matt Damon. Ocorre que em Chappie (Chappie), mais recente lançamento do diretor, que agora chega agora em DVD, a mensagem - se ela que ela existe - acaba se perdendo em meio a uma maçaroca cinematográfica capaz de misturar obras como Mad Max e Inteligência Artificial.
Adotando um estilo documental, muito semelhante aquele já visto em Distrito 9, a película começa dando conta dos assustadores índices de violência da cidade de Johannesburgo, e com a polícia local batendo cabeça para tentar conter os cerca de 300 assassinatos que ocorrem, diariamente. Como forma de resolver o problema - e consequentemente diminuir o número de mortes de civis e de militares - o Governo local resolve substituir a polícia humana por uma frota de robôs super resistentes, dotados de inteligência artificial. A coisa vai funcionando bem, até que o cientista que desenvolveu os tais robôs, o doutor Deon (vivído de forma quase caricata pelo ator indiano Dev Patel), resolve que ele tem que inserir emoções humanas nos robôs, como forma de qualificar o seu projeto. Sim, por que se não tivesse alguma viagem do tipo, não teria propósito de a obra existir.
Após ter a sua solicitação negada pela diretora da empresa em que trabalha (interpretada pela atriz Sigourney Weaver, no piloto automático), Deon resolve "sequestrar" um dos robôs que seria descartado, após este ter sofrido avarias. É nele que o cientista resolve testar o seu modelo, entrando em ação o Chappie (Sharlto Copley, o ator favorito de Blomkamp) do título, um robô capaz de raciocinar e aprender coisas por conta própria. Só que, em meio a tudo isso, Chappie é sequestrado por um grupo de ladrões - que mais parece um bando de extras do Mad Max, com figurinos e cabelos ainda mais esquisitos - que precisa assaltar um banco para não terem as suas cabeças a prêmio, por conta de dívidas com um traficante local. É com essa turminha "da pesada", que o robô aprendiz vai começar a entender as coisas boas (e más) da vida.
O que a obra tem de melhor, sem dúvida, são os seus cenários - especialmente a fábrica abandonada onde "residem" os bandidos Ninja e Yo-Landi, com seu estilo retrô-futurista e de elementos cyberpunk, que mais parecem saídos de algum romance do escritor William Gibson. Só que, ao não se decidir sobre o estilo adotado - seria uma ficção? Ou uma comédia? Ou um filme de ação? - Blomkamp dilui as suas muitas ideias, tornando o resultado ainda mais raso, ao tomar como modelo a lógica norte-americana da guerra pela guerra, com Chappie funcionando como uma ilha de candura em meio a brutalidade do homem. Também sem fazer com que tenhamos empatia por qualquer das personagens vistas na tela, o diretor ainda torna o aprendizado de Chappie algo um tanto maniqueísta e de lógica difusa. Como compreender tudo o que ocorre ao seu redor de forma tão rápida? Ao querer abraçar tudo ao mesmo tempo, o diretor consegue fazer uma obra apenas média, que, pra piorar, ainda parece ignorar aquilo que de mais forte possui o seu cinema: a denúncia social, que acaba diluída em meio a bagunça desenfreada.
Nota: 4,5
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