segunda-feira, 1 de julho de 2024

Cinema - A Grande Fuga (The Great Escaper)

De: Oliver Parker. Com Michael Caine, Glenda Jackson e Danielle Vitalis. Drama / Comédia, EUA / Reino Unido, 2023, 97 minutos.

"Você está bem? Não, não estou, estou muito velha". Vamos combinar que o subgênero dos filmes com idosos sendo carismáticos e ranzinzas não chega a ser uma novidade e, em linhas gerais, é um formato que em muitos casos agrada tanto o público quanto a crítica. Afinal de contas todos nós iremos envelhecer - e lidar com todas as decorrências da proximidade do ocaso da existência é algo demasiadamente humano. Assim, quando A Grande Fuga (The Great Escaper) abre e nos deparamos com um Michael Caine já com 90 anos, com a aposentadoria já anunciada, diante de uma praia plácida em um dia acinzentado, com as ondas do mar em sua fluidez natural, é meio que impossível não pensar na vida e nos seus ciclos, nas idas e vindas e voltas, mas também na chegada em um ponto final. Ali, ainda naquele preâmbulo, parece que não pensamos tanto no filme que assistiremos, mas em tudo o que passou. Ainda mais quando se trata de um grande ator como Caine - um astro premiado, duas vezes agraciado com o Oscar, e certamente um dos maiores de sua geração.

Nesse sentido é meio difícil não ficar enternecido ainda nos primeiros segundos da produção dirigida por Oliver Parker que, para simplesmente acontecer, contou com um grande esforço físico não apenas de Caine, mas também da ótima Glenda Jackson que, com mais de 40 produções no currículo como atriz, viria a falecer meses depois deste, que seria oficialmente o seu último trabalho. Então todas essas circunstâncias parecem nos deixar mais predispostos a atenuar as eventuais críticas ao projeto, ou mesmo relevar a forma condescendente com que, em muitos casos, os velhos são tratados nos filmes. Quando Irene, a personagem de Glenda, afirma que não está bem porque está muito velha, a gente se comove com a honestidade da sua expressão severa diante dessa dura constatação. Ainda assim não deixa de ser divertido perceber como são delas as melhores tiradas, como no instante em que uma enfermeira lhe pergunta se está bem, pra ela responder de forma áspera e gentil em igual medida um "na minha idade você está basicamente ferrada", seguida de um "o médico já me disse pra eu não iniciar livros longos".


 

Ao lado de Bernard Jordan, o personagem de Caine, com quem é casada há mais de cinquenta anos, Irene é a habitante de uma tranquila casa de repouso do Reino Unido. Só que Bernard está inquieto. O ano é 2014 e se aproxima a data da comemoração dos 70 anos do Dia D, que marca a chegada dos aliados à Normandia - ele, um veterano da Marinha Real Britânica que estava no front naquele 1944, em plena Segunda Guerra Mundial. Impossibilitado de participar das festividades por não ter conseguido um convite antecipadamente, Bernard é incentivado por Glenda a simplesmente ir até o local por conta própria. No caso, fugir até a França, em segredo. Baseada em fatos reais, a história tem um componente a mais de dramaticidade, já que a saúde de Glenda não anda das melhores - o que é evidenciado pelo seu comportamento nostálgico, investigando cartas e documentos do passado, ou mesmo discos e outros itens que funcionarão como a ponte para uma série de bonitos flashbacks sobre como ela e Bernard se conheceram nos anos 40.

Em alguma medida esse é um filme de fácil digestão. Ou melhor, é muito simples de se gostar. Não há um grande aparato técnico ou estripulias excessivas - aliás, por recomendação médica, Caine só podia trabalhar cinco horas por dia, mas Parker afirma que, se dependesse do ator, ele se ocuparia durante as 24 horas do dia. Talvez como uma forma de estender um pouco mais aquela que, muito provavelmente, será a sua última vez diante das câmeras. Na fuga para a Normandia, Bernard é identificado pela imprensa, após uma temporada de encontros com antigos fuzileiros e comandantes, em meio a bebedeiras e memórias do passado. E se torna uma espécie de microcelebridade local, após a hashtag #thegreatescaper ser subida no Twitter. O que não deixa de ser uma grande ironia - talvez uma alegoria para a fuga daquilo que nos destina - e também uma forma a mais de homenagear um grande astro, que esteve no elenco de clássicos variados, como Hannah e Suas Irmãs (1987), Regras da Vida (1999) e O Americano Tranquilo (2003). 

Nota: 7,5


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