quarta-feira, 29 de maio de 2024

Pitaquinho Musical - Yaya Bey (Ten Fold)

Sedutor, sofisticado, aconchegante, hipnótico, vívido. Vamos combinar que não serão poucos os adjetivos na hora de caracterizar as qualidades de Ten Fold, o quinto registro de inéditas da cantora e compositora Yaya Bey. Assim como já ocorrera no anterior Remember Your North Star (2022), aqui a artista investe novamente na mistura contemporânea de R&B, pop, funk e soul, com algumas pitadinhas de trip hop - algo como um encontro entre FKA Twigs e Mary J. Blige. Como se o sussurro fosse um estado de espírito, Bey investe no minimalismo e na potência dos versos como o caminho para estabelecer suas vulnerabilidades, anseios, dores e incertezas - ainda mais após a perda do pai Ayub Bey, rapper que, sob o sugestivo pseudônimo Grand Daddy IU, fazia parte do coletivo dos anos 80 Juice Crew. "Foi uma forma de fugir da tristeza, se ocupar, trabalhar, escrever", revelou em entrevistas de divulgação.


A real é que Bey sempre foi uma consumidora de cultura negra - de livros de Toni Morrison, passando pelos programas de humor de Richard Pryor e pelos discos incendiários de Chaka Khan e Tina Turner. Para além da tentativa pessoal de superar o luto, a cantora utiliza a sua arte como veículo para discussões mais amplas sobre racismo, igualdade entre gêneros, problemas ambientais, falta de dinheiro e direitos das minorias. Só que os temas mais sérios ou pesados não significam melodias sisudas ou um estilo excessivamente hermético: há um paradoxo que torna tudo colorido, leve e dançante, o que faz com que questões sociais complexas emerjam em meio a uma sonoridade refrescante, revigorante. Não é preciso ser cabeçudo pra falar do que importa. Dá pra ser artístico e analítico, mantendo o brilho, a polidez e a suavidade - como comprovam canções de títulos divertidos, como Eric Adams in the Club, Slow Dancing in the Kitchen e Sir Princess Bad Bitch.

Nota: 8,5


Nenhum comentário:

Postar um comentário