terça-feira, 1 de agosto de 2023

Cinema - Loucas em Apuros (Joy Ride)

De: Adele Lim. Com Ashley Park, Sherry Cola, Sabrina Wu e Stephanie Hsu. Comédia, EUA, 2023, 93 minutos.

Os tempos mudaram e hoje em dia não são apenas os homens jovens, brancos e héteros que têm aquela comédia escatológica, delirante e hedonista pra chamar de sua. Sim, Se Beber Não Case pode ter feito certo sucesso em 2009, mas aquele ano agora parece tão distante, que um filme de humor histriônico carece de algumas atualizações pra permanecer mais ou menos relevante - especialmente na era do cancelamento. A solução encontrada por Loucas em Apuros (Joy Ride)? Que tal quatro garotas asiáticas vivendo as mais loucas aventuras, enquanto se empenham em encontrar a mãe de uma delas? E tudo isso na movimentada e caótica China? Ok, a diversidade é quase uma necessidade em 2023 - e basta pensar em obras recentes como Parasita (2019) e Tudo Em Todo Lugar ao Mesmo Tempo (2022) para que tenhamos a certeza da importância de ampliar os horizontes culturais. Agooora, significa que qualquer filme vai ser bom somente por adicionar esse componente?

E, justiça seja feita, eu amei os dois filmes oscarizados citados acima - as resenhas são a maior prova disso. Assim como sou um apaixonado pelo cinema do Japão, da Coreia do Sul ou da China. Mas o fato é que não consegui me conectar a contento com o projeto da diretora Adele Lim. E eu até faço uma espécie de "meia culpa" no sentido de que talvez eu não seja o público-alvo da obra. Com seu humor apressadíssimo, referências culturais dispersas, excentricidades sem limites e personagens que parecem sempre agir no modo over - no exagero mesmo -, o caso é que, lá pelas tantas, cansei. E comecei a olhar para o celular, esperando o final de uma vez. Há ideias boas? Há ideias boas. Especialmente quando o projeto se empenha em evidenciar o absurdo da xenofobia ou da discriminação racial que persiste nos tempos modernos.




Em uma das mais divertidas sequências, por exemplo, o quarteto está em um trem onde busca uma cabine que, obrigatoriamente, deverá ser compartilhada com desconhecidos. Após descartar outros vagões por motivos claramente preconceituosos, o grupo aceita dividir espaço com uma mulher loira, jovem e norte-americana que, mais adiante, se revelará como uma traficante de drogas. Outros instantes abordam o absurdo da intolerância mas de forma igualmente bem humorada, como no momento em que eles identificam as diferentes etnias asiáticas por meio de uma série de estereótipos. E estes são pontos positivos, inegavelmente. Na trama, somos apresentados às amigas de longa data  Audrey (Ashley Park) - uma garota que foi adotada por pais brancos ainda criança - e Lolo (Sherry Cola), que se conhecem em um parquinho do bairro quando na juventude, continuando ligadas pelo fato de ambas serem de descendência asiática (o que na "branquela" Seattle é um louvável ponto em comum).

Com personalidades distintas, Audrey é a advogada de tom mais sério que aspira uma melhor posição no escritório que trabalha, ao passo que Lolo é uma artista plástica iconoclasta, que aposta em um kitsch sexualizado em suas peças (em uma maquete de um parquinho de diversões o escorregador é a réplica de um pênis, só pra ficar num exemplo). E quando o chefe de Audrey a envia para uma importante viagem de negócios à China, Lolo vai em sua companhia para lhe auxiliar nas traduções, já que a amiga tem pouco contato com seu País de origem. Às duas se juntam ainda Deadeye (Sabrina Wu) - uma prima de Lolo meio inepta no que diz respeito às interações sociais e ainda Kat (Stephanie Hsu), uma ex-colega de faculdade de Audrey que hoje trabalha como atriz em produções de época. Claro que essa junção será apenas uma desculpa para que diferenças venham à tona o tempo todo, com o quarteto vivendo uma série de estripulias. Com tudo piorando quando Audrey é desafiada a encontrar sua mãe biológica para, somente aí, concretizar o negócio. Rende. É barulhento. Tem uma sequência do ponto de vista de - acredite - uma vagina. Mas é pouco. Infelizmente.

Nota: 5,0


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