quarta-feira, 9 de agosto de 2023

Cinema - Asteroid City

De: Wes Anderson. Com Scarlett Johansson, Jason Schwartzman, Tom Hanks, Edward Norton, Tilda Swinton e Steve Carell. Comédia, EUA, 2023, 105 minutos.

Já disse isso mais de uma vez e repito: poucos diretores são tão oito ou oitenta como Wes Anderson. Os fãs normalmente aguardam qualquer novo projeto com uma devoção comovente. Os detratores costumam brincar com o fato de o realizador fazer "sempre o mesmo filme". Será que a fórmula um dia vai se desgastar? No meu caso, confesso que fiquei com um sentimento meio ambíguo enquanto conferia Asteroid City, que entra em cartaz nos cinemas nesta semana. Por um lado, e sem soar presunçoso, esse é o tipo de obra que dificilmente deve arrebanhar novos apreciadores da estética excêntrica - e das histórias idem - de Anderson. Por outro, os convertidos devem se deliciar com mais uma narrativa repleta de personagens extravagantes, que trafegam em cenários saturadamente coloridos, enquanto são filmados em enquadramentos geometricamente calculados. Tudo meio de acordo com a cartilha de Anderson.

Talvez quem não assistiu Os Excêntricos Tenenbaums (2001), Moonrise Kingdom (2012) ou A Crônica Francesa (2021) ache tudo apenas esquisito - pra não dizer entediante mesmo. E, na real, tudo bem quanto a isso. Ninguém é obrigado. Aqui o diretor reuniu, como de praxe, um numeroso elenco de estrelas - alguns fazendo pequenas pontas de poucos minutos na tela, como é o caso da incensada Margot Robbie (que não para de colecionar recordes com Barbie) ou dos oscarizados Tom Hanks, Tilda Swinton e Willem Dafoe (que até não faturou o carecão, mas volta e meia é indicado). Outros atores, como Edward Norton, têm papel central na narrativa: ele é o dramaturgo Conrad Earp, que está tendo uma de suas peças encenada para o teatro. Nela, retornamos para o ano de 1955, no Oeste americano - um espaço isolado e arenoso, mas estranhamente futurista - onde ocorrerá uma convenção de jovens cinetistas na cidade que dá nome ao filme.


Aliás, o local se chama Asteroid City justamente por causa de uma enorme cratera, resultado de um fragmento caído três mil anos atrás (e que hoje é uma espécie de ponto turístico). Um dos primeiros a chegar para o evento é Augie Steenback (Jason Schwartzman), um fotojornalista de guerra, que está acompanhado de seu filho adolescente Woodrow (Jake Ryan). Depois que seu carro enguiça ele se vê impossibilitado de levar suas outras três filhas até a casa de seu sogro (Hanks), para que elas fiquem com o avô após a morte da mãe - o que é mantido em segredo. No povoado, Augie e Woodrow conhecem ainda Midge Campbell (Scarlett Johansson) uma atriz famosa meio niilista, que acompanha sua filha Dinah (Grace Edwards), que também será uma das homenageadas na convenção. Orbitando esse núcleo que, aos poucos e de forma meio torta, se aproximará, surgem ainda outras figuras singulares, como o general cinco estrelas Grif Gibson (Jeffrey Wright), a astrônoma Dr. Hickenlooper (Swinton), a jovem professora June Douglas (Maya Hawke), o gerente de um motel local (Steve Carrell), um mecânico, um grupo aleatório de caubois e um ônibus cheio de crianças, entre outros. Ufa! Ah, e tem um alienígena ainda. Acreditem.

Claro que tudo não passa de uma desculpa para que Anderson exercite as suas esquetes insólitas, indo de um personagem a outro em travellings matematicamente perfeitos, que aproximam e expandem - um tipo de recurso técnico que pode ser usado (ou não) em favor da narrativa. Aqui e ali, o diretor insere piadas meio indiretas que dizem respeito não apenas ao período histórico dos Estados Unidos - no caso, o do pós-guerra -, como ainda funcionam como divertido comentário social que atravessa os tempos. É este o caso, por exemplo, do instante em que vemos um trem que vagueia alegremente ainda no primeiro ato, ao som de uma canção country, sendo uma das cargas de um dos vagões uma ogiva nuclear que só deve ser disparada com "autorização presidencial". Em outro momento, a falecida esposa de Augie é apresentada como um montinho de cinzas dentro de uma tupperware. São instantes que, ao mesmo tempo que aludem a um humor extravagante, contribuem para que a narrativa avance. Colorido, exótico, eventualmente ilógico, esse é mais um Wes Anderson raiz que agradará iniciados. E talvez só eles mesmo.

Nota: 7,5


Nenhum comentário:

Postar um comentário