quinta-feira, 3 de agosto de 2023

Pitaquinho Musical - Luiza Lian (7 Estrelas / Quem Arrancou o Céu?)

"A minha música é uma paisagem / Pra você entrar e fazer sua viagem / Pra você entrar e fazer sua viagem / Luzes que nela correm são um espelho / Pra cada um iluminar o próprio caminho". Os primeiros versos de 7 Estrelas / Quem Arrancou o Céu?, quarto registro de inéditas da paulista Luiza Lian, não poderiam ser mais convidativos. Sim, cada um pode dar a sua interpretação pra música - e pra arte como um todo - e a cantora e compositora parece consciente disso já nos instantes iniciais do projeto. Ainda assim esse caráter convidativo de A Minha Música É - a primeira faixa - é diluído em uma melodia densa, cheia de efeitos eletrônicos ruidosos, que contrastam com a voz limpíssima da artista. E, honestamente, não precisa muito para que sejamos impactados por essa mescla entre placidez e balbúrdia, com essa dicotomia sendo admitida pela própria Luiza no material de apresentação: "sempre tive pra mim que o encontro com o espírito se dava pelo corpo", afirma.



Ao cabo esse é um disco de corpo e de alma, de concreto e de abstrato, de tecnologia e de espiritualidade, de futuro e de passado. Barulhinhos modernos que se misturam à percussões africanas, vocais robotizados em letras repletas de devaneios divinos, que se chocam com os prazeres da carne. "Tecnicolor, divinas estrelas / Beijei uma foto pixelada" divaga a musicista em Tecnicolor, parceria com Céu. O expediente segue com a saborosa Homenagem que, com sua letra divertidamente safada (Mas quando me vê passar bate uma saudade / Chega em casa pensa em mim faz uma homenagem), se equilibra entre o minimalismo e o deboche quando o assunto é o amor (e o sexo). Experimental em alguns instantes (Eu Estou Aqui), acessível em outros (Desabriga), o álbum é pura personalidade pós-pandemia. "O disco fala sobre a dificuldade de acessar a espiritualidade em um mundo tão desconectado [...] A gente nunca esteve tão conectado com a nossa realidade, mas nunca tão desconectado com a gente" resumiu em entrevista para a Revista Noize.

Nota: 9,0


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