quarta-feira, 16 de agosto de 2023

Pitaquinho Musical - Garotas Suecas (1 2 3 4)

Talvez um pouco menos efervescente, colorida ou "escaldante" do que em trabalhos anteriores. Assim pode ser resumida, ao menos em partes, a experiência com o quarto álbum de estúdio dos paulistas do Garotas Suecas. Famosos pelo bom humor e por certa irreverência que marcaria projetos como Escaldante Banda (2010) e Feras Míticas (2013), em 1 2 3 4 o coletivo formado por Irina Bertolucci (teclados), Tomaz Paoliello (guitarra), Fernando Perdido (baixo) e Nico Paoliello (bateria) entrega uma safra de canções de tonalidade mais sóbria - ainda que a personalidade do quarteto, o seu DNA, permaneça intacto. "Foi um disco que foi feito com nós quatro nos encontrando da maneira que dava, de máscara" explicou Tomaz, em entrevista ao site Mad Sound, dando uma dimensão da complexidade de se produzir um álbum em um contexto de pós-pandemia e de um projeto de extrema direita que afundou o País.



E ainda que os temas possam soar mais sérios, isso não significa necessariamente um aceno à melancolia. Mesmo em letras poeticamente reflexivas, como no caso do divertido single Gentrificação (Onde havia uma oficina, abriram um brechó / O restaurante estrelado já foi casa de uma avó / A costureira, a manicure, o armazém e o chaveiro / Viraram um prédio, ocupa o quarteirão inteiro), há um aceno para certo deboche, que se estende para a sonoridade que, o tempo todo, estabelece diálogo com o power pop, com a surf music dos anos 60 e com a Jovem Guarda. Com duas metades bem delimitadas, o álbum insere o ouvinte em crônicas cotidianas, relacionamentos complexos e dores da vida adulta na primeira parte, para avançar para discussões políticas e sociais em seu lado B - o que fica claro a partir da trinca What U Want, Como É Que Pode (uma das melhores do álbum) e Bala. Talvez melhor disco do Garotas Suecas? Vocês decidem.

Nota: 9,0


Nenhum comentário:

Postar um comentário