De: Ti West. Com Mia Goth, David Corenswet, Tandy Wright e Emma Jenkins-Purro. Drama / Terror, EUA, 2022, 103 minutos.
Por mais paradoxal que isso possa parecer, foi a existência de X: A Marca da Morte (2022) que jogou a expectativa lá no alto para a sua prequela Pearl. Afinal de contas, no primeiro episódio da trilogia do diretor Ti West - que já está com MaXXXine, o capítulo final, engatilhado - a gente tinha aquele folk horror que acertava em cheio ao se aproveitar do subgênero slasher pra criticar a hipocrisia da sociedade, os problemas que decorrem do fanatismo religioso e a dificuldade inescapável de fugir das convenções sociais que costumam atar os habitantes de pequenas cidades a uma existência provinciana (não que isso, necessariamente, seja a dificuldade em si). Só que nessa aguardada segunda parte, a impressão é a de que temos parte desse discurso diluído - não há nada mais diferente ou incisivo aqui -, o que é somado a uma sensação de poucas novidades. Por mais que, aqui, acompanhemos parte da juventude de Pearl (Mia Goth), em um ambiente opressor que contribuiria para que, mais adiante, ela se tornasse uma assassina desvairada.
Só que, diferentemente da primeira parte, em que esses subtextos mais críticos apareciam aqui e ali de forma sutil - fosse na onipresença de um televangelista em permanente discurso religioso/doutrinatório na TV ou mesmo no debate sobre sexualidade humana e seus fetiches -, aqui temos Pearl simplesmente despirocando muito mais pela existência de prováveis problemas psicológicos severos, do que por um desejo genuíno de cortar o cordão umbilical de sua família. Enquanto assistia ela gritando alucinadamente - no cinema não há como baixar o volume, infelizmente -, em um de seus surtos, tudo o que conseguia pensar era "por Deus, arrumem um psiquiatra (e um rivotril) pra essa garota"! Por mais que, vá lá, talvez os terapeutas desse tipo nem existissem direito em 1918, época em que se passa o filme - estamos no final da Primeira Guerra, que serve como uma espécie de pano de fundo sem muita importância.
Na trama, Pearl mora em uma fazenda do interior do Texas onde auxilia a sua mãe - a amarga Ruth (Tandi Wright) - com a rotina da propriedade, ao mesmo tempo em que a ajuda a cuidar do seu pai moribundo (Matthew Sunderland). Em seu íntimo, a protagonista não deseja ficar despejando silagem no cocho dos animais a vida toda: seu sonho bem molhado é se tornar uma estrela de cinema (aliás, uma novidade do começo do século passado que ela acompanha em idas secretas à cidade). E será numa dessas escapadas, sob a desculpa de ir comprar remédios para seu pai, que ela conhecerá um projecionista (David Corenswet) que, ela acredita, poderá ser o caminho para a fama e o sucesso em Hollywood. Só que ninguém tinha dito pra jovem Pearl que não dava pra acreditar demais em homem - e, bom, é quando têm início uma série de frustrações que a coisa desanda e quem já assistiu X sabe onde a jovem Pearl, com sua face rosada e seu cabelo alinhadinho, vai parar.
Bom, não é muita gente que lê o Picanha mas, vá lá, sei que a base de fãs é forte e não é que não gostei da experiência com o filme. Talvez eu tenha ido com certa sede ao pote, depois do ótimo primeiro capítulo. Há coisas boas ali - e não, não estou falando do discurso expositivo de Pearl no terço final, que parece funcionar como uma espécie de Oscar bait de atuação, mas que só deixa o espectador com sono. A ambientação é, novamente, interessante, há um bom uso das cores nos cenários e nos figurinos - e por mais óbvio que seja a protagonista usando um vestido vermelho após o primeiro assassinato, retirando de seu corpo as vestes em tons pasteis, devo dizer que gostei. As referências a clássicos do cinema são bacanas - às de O Mágico de Oz (1941) saltam aos olhos. Há uma solução criativa na hora de inserir os problemas relacionados à pandemia - em 1918 o auge era a gripe espanhola. E até gostei da última cena. A última mesmo, aquela de quando os créditos já estão subindo - e que ressaltam a completa perturbação mental da personagem principal. Mas foi pouco. Queria mais do que a doidinha de bairro que "transa" com um espantalho pra se aliviar sexualmente. Uau, que impactante!
Nota: 6,0
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