sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

Tesouros Cinéfilos - A Promessa (The Pledge)

De: Sean Penn. Com Jack Nicholson, Robin Wright, Benicio Del Toro, Aaron Eckardt, Mickey Rourke, Helen Mirren, Patricia Clarkson e Vanessa Redgrave. Drama / Suspense, EUA, 2001, 124 minutos.

[ATENÇÃO: ESSE TEXTO POSSUI SPOILERS]

Quando pensamos no Sean Penn como diretor, é meio inevitável que nos venha à cabeça o clássico moderno Na Natureza Selvagem (2007). Mas é preciso que se dê algum crédito ao suspense A Promessa (The Pledge), uma obra meio injustiçada, esquecida - e que justamente por ser tão imprevisível e surpreendente merece ser resgatada do "limbo". Penn reuniu um senhor elenco para contar a história de Jerry Black (Jack Nicholson), um policial veterano em uma pequena cidade desértica do Estado de Nevada no Oeste americano. Prestes a se aposentar, tudo que o sujeito deseja é esticar o anzol e pescar nos lagos gelados da região, para curtir o merecido descanso. Só que justamente em meio a festa de despedida de Jerry, os detetives da delegacia local recebem uma notícia chocante: um crime bárbaro aconteceu - no caso o estupro seguido de assassinato de uma menina de apenas sete anos. Na hora de informar a família do ocorrido, o policial faz uma promessa à mãe enlutada (vivida por Patricia Clarkson): a de que encontrará o criminoso a qualquer custo.

Não demora para que o detetive Stan (Aaron Eckardt) localize um homem das redondezas que responde por Toby Jay Wadenah (Benicio Del Toro). Com claros problemas mentais o acusado confessa o crime, após um interrogatório psicologicamente perturbador de Stan. No caminho da prisão, o suposto assassino surpreende um dos guardas, rouba sua arma e se suicida. Caso encerrado? Não para Jerry. Dada a sua experiência, ele acredita que Toby Jay não é o culpado. E resolve, mesmo já aposentado, investigar o crime por conta própria. Na escola onde estudava a menina, descobre por meio de uma coleguinha que ela havia feito um desenho de um "suposto amigo" - um adulto bastante alto, que lhe presenteava com pequenos ouriços. Avançando na investigação, Jerry descobrirá outros dois crimes no passado, também envolvendo meninas de sete ou oito anos, loiras, que usavam um vestido vermelho. É um padrão? Estamos diante de um assassino em série? Ou tudo não passa de uma espécie de paranoia exagerada na cabeça do ex-policial?


Tentando conciliar o tempo livre com a investigação, o protagonista adquire um posto de gasolina em um pequeno povoado próximo da região. Por ali conhece a mãe solo Lori (Robin Wright) que administra um bar no entorno - e que possui uma filha, veja bem, de cerca de oito anos. Mantendo segredo de Lori em relação à suas práticas, Jerry vai juntando uma e outra peça do quebra-cabeças, acreditando que poderá emboscar o assassino - que ele desconfia que seja um padre da região. Não há certeza, mas é necessário mobilizar todas as forças: detetives, FBI, exército. São muitas as pistas que incriminam o sujeito e a filha de Lori poderá ser a isca perfeita em seu plano. Mas poderá mesmo? Devo confessar a vocês que poucas vezes fui tão impactado por um final de filme como no caso desse A Promessa. Ambígua, incerta, até meio confusa, essa é daquelas conclusões que deixaram as plateias absolutamente irritadas (e surpresas) ao redor do mundo - e admito que não li o livro de Friedrich Dürrenmatt pra saber se o texto vai pelo mesmo caminho. 

Ao cabo, não se trata daquele filme redondinho com começo meio e fim hollywoodiano - crime acontece, investigadores vão atrás, sujeito é preso, todo mundo sai feliz. Aqui as circunstâncias mudam o tempo todo e quando vê somos sutilmente sugados para algo bem legítimo da condição humana: a de que não dá pra se ter certeza de nada. A sequência final, com um Jerry absolutamente atônito, confuso, em meio a delírios balbuciantes que se cruzam com imagens de um acidente de carro que teria vitimado justamente o assassino, impedindo o policial de cumprir a sua última missão, aquela que ele havia prometido à mãe que perdeu a própria filha, é daquela de nos revirar a alma, nos atingir no âmago. Eu admito que, sempre que assisto a esse filme, um frio da espinha percorre meu ser. A gente não é avisado de nada. As coisas apenas acontecem. E ficamos nós, com a informação a mais. Impossibilitados de fazer qualquer coisa com o que temos.

Sutil, o filme funciona justamente por esse componente inesperado, quando a história parece trilhar pelo caminho mais óbvio. Há uma série de soluções criativas que vão formando o conjunto do roteiro - que vão desde um desenho como a "melhor pista" do assassino, passando pelo fato de o suspeito ser um religioso fervoroso e solitário, que tem dificuldades em arrumar uma esposa (de acordo com sua própria mãe). Com o DNA típIco das produções do final dos anos 90 e começo dos 2000, a obra retrata os moradores do interior dos Estados Unidos como pessoas desconfiadas, conservadoras, excessivamente religiosas. Uma simples cena em um bar parece gerar estranhamento, dúvida. É tudo muito bem conduzido, bem costurado. As interpretações comovem, especialmente a de Nicholson, (como e praxe). A trilha sonora de Hans Zimmer é eletrizante. Os cenários são bucólicos e opressivos em igual medida. Não há nada fora do lugar. Completamente esnobado na temporada de premiações, esse é daqueles que precisam ser recuperados. Vistos. Lembrados. Tá na HBO Max. Não haverá arrependimentos.

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