terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

Novidades em Streaming - Gato de Botas 2: Último Pedido (Puss in Boots: The Last Wish)

De: Januek Mercado e Joel Crawford. Com Antonio Banderas, Salma Hayek, Florence Pugh, Wagner Moura e Olivia Colman. Aventura / Comédia, EUA, 2022, 101 minutos.

Não é de hoje que o cinema se ocupa em mostrar que a idade chega para todos - e não foram poucas as obras que, nos últimos anos, nos apresentaram a heróis envelhecidos que, diante do próprio senso de finitude, refletem sobre tudo o que passou. Um tipo de exercício nostálgico que, em alguns casos, serve de combustível para um último respiro, uma última aventura, um último olhar para os tempos de glória. E por mais humana que essa temática tenda a ser - somos, ao cabo, seres conscientes disso -, ela ressurge de forma divertida e bem humorada na sequência Gato de Botas 2: Último Pedido (Puss in Boots: The Last Wish), que estreia para aluguel em plataformas de streaming como o Now. Onze anos, afinal, se passaram desde o primeiro filme do famoso felino (encarnado por Antônio Banderas, com a paixão habitual). Onze anos em matéria de vida de gato é algo que pesa - a despeito da abstração que envolve uma animação.

A trama começa agitada, quase caótica, com o protagonista salvando uma comunidade do ataque de um enorme gigante - o que envolve uma batalha que acertará em cheio o coração dos pequenos jogadores de videogame (há um aceno para games estilo Shadow of the Colossus, por exemplo). Só que no último minuto de exibição de suas intensas habilidades, um sino enorme cai sobre sua cabeça. O que fará o Gato de Botas receber um trágico diagnóstico: a vida "morrida" nesse episódio foi a oitava. Restando apenas uma das nove que o gato possui, de acordo com o folclore. Aliás, parêntese: a sequência em que, confrontado por seu algoz, o bichano recorda de todas as suas mortes é uma das mais divertidas do filme dirigido por Januel Mercado e Joel Crawford. Tem de tudo um pouco, de inesperada alergia durante um jantar, passando por desafios envolvendo quedas de alturas impossíveis, até chegar a corrida de touros em Pamplona ou mesmo um jogo de pôquer perigoso demais. É simplesmente hilário!


Quando é acossado por uma espécie de lobo "comunista" (Wagner Moura) - com direito a foice e paleta de cores vermelhíssima -, o nosso protagonista percebe que não pode mais arriscar tanto. Resta preservar a última vida. O que fará com que ele busque refúgio em um espaço idílico, meio isolado, onde habita uma senhora que cuida mais ou menos de uma centena de felinos. Resignado, ele enterra inclusive suas vestes. Sua espada. Sua insígnia. É um sepultamento simbólico que diz respeito a quem ele foi. Com um profundo desgosto, o Gato passa a se habituar a rotina de se empanturrar de ração, perambular e dormir. Sua barba cresce, ele ganha um pouco de peso. Faz amizade com um guaipeca, o Perrito (Harvey Guillén), que está disfarçado no local. E, bem, a coisa dá uma reviravolta quando o Gato é localizado por uma órfã de Cachinhos Dourados (Florence Pugh) que integra uma família de ursos (!) que pretende "contratá-lo" para que ele ajude-os a encontrar uma espécie de estrela cadente no meio de uma floresta mágica. Que, aliás, seria a chave para que o nosso aposentado favorito pudesse ter de volta as suas vidas.

Claro, como de praxe nas animações atuais - que encontram o carinho das crianças, mas também não deixam de fazer uma série de acenos aos adultos - tudo não passa de uma grande alegoria a respeito da importância de valorizar a vida e cada instante dela. Metáforas sobre amadurecimento, respeito às diferenças e união de esforços na hora de alcançar objetivos também surgirão, aqui e ali, uma vez que outros personagens também entrarão na disputa pela estrela, numa espécie de corrida tão maluca quanto aleatória. Aliás, em seu caminho, Gato reencontrará Kitty (Salma Hayek), com a rivalidade inicial e as mágoas do passado se convertendo em questões menores diante da necessidade de... preservação da vida. Ao cabo trata-se de uma animação super bem elaborada, divertida, quase frenética em alguns momentos - o tiozão 40+ quase fica perdido nessas horas! E que também guarda aquele tipo de ensinamento que deixará contente a família que se reúne em volta da TV. Afinal, não existe nada mais inovador nos tempos atuais do que repetir os discursos à exaustão, pra ver se eles emplacam com os baixinhos. E com os adultos também. Vale dar o play sem medo de ser feliz.

Nota: 8,0


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