Um conjunto de músicas etéreas, hipnóticas e ondulantes, que por vezes parecem produto de uma outra dimensão - mas que, de forma paradoxal, nunca foram tão materiais, tão humanas, tão reais. Tão romanticamente tortas. Mais ou menos dessa forma pode ser definido Desire, I Want to Turn Into You, aguardado segundo trabalho em carreira solo de Caroline Polachek. Aliás, quem acompanha a artista desde os tempos de Chairlift, pouco encontrará do requinte econômico, mais delicado, de sua antiga banda - e que renderia singles graciosos como Crying in Public, do excelente Moth (2016). Aqui, com o suporte do produtor Danny L Harle, tudo parece maior, mais expansivo, mais conectado a tudo de exuberante que integra o que se convencionou chamar de música pop. Dos clipes borbulhantes às produções limpas, dos sintetizadores penetrantes aos efeitos digitais e barulhinhos criativos (estalos de dedos, assovios, zumbidos) que preenchem cada ato, não há nada que pareça deslocado ou fora de tom.
Um bom exemplo de tudo isso pode ser observado em Fly to You, que promove um encontro entre Dido e Grimes e que, de alguma maneira, resume o tipo de ambientação que o ouvinte experimentará no trabalho - uma união entre a sofisticação da primeira (com seus vocais suntuosos) e o experimentalismo estranho da segunda. O que de alguma forma servirá como fio condutor do registro. Do flamenco da vigorosa Sunset (que parece uma trilha perdida da série The White Lotus), passando pela inesperada gaita de foles que dá um clima todo escocês à Blood and Butter, até chegar ao trip hop de Pretty in Possible ou mesmo à fritação psicodélica do single Bunny Is a Rider, a mescla de estilos parece sempre trabalhada de forma orgânica, natural, jamais parecendo algo para forçar a barra ou para mero exibicionismo de Tik Tok. Polachek deu um passo largo, refinado, em relação a sua estreia solo Pang, o ótimo (e levemente mais sombrio) disco de 2019. E assim lança, muito provavelmente, um dos melhores discos desse primeiro semestre de 2023.
Nota: 9,5
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