terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

Cinema - M3gan (M3gan)

De: Gerard Johnstone. Com Allison Williams, Violet McGraw e Ronny Chieng. Ficção científica / Terror, EUA / Nova Zelândia, 2022, 102 minutos.

Vamos combinar que se as histórias envolvendo brinquedos em surto psicótico não chegam a ser exatamente uma novidade, ao menos M3gan (M3gan) "diverte" ao nos fazer pensar sobre a relação que temos com a tecnologia e, especialmente, como lidamos com ela quando o assunto são as crianças. Sim, aqui temos uma espécie de encontro de Annabelle (2014) com Black Mirror (sempre ele) e o resultado gera sustos muito mais por aquilo que insinua do que pelos famosos jump scares. Na trama somos apresentados a Gemma (Allison Williams, vista também em Corra!, 2017), uma engenheira robótica que trabalha na fictícia fábrica de brinquedos Funki, que tem no seu catálogo o Furby, um tipo de monstrinho híbrido que funciona como uma espécie de Tamagotchi da nova geração - aliás, a coloridíssima propaganda que abre o filme, é daquelas que nos captura de forma instantânea.

Só que, por mais paradoxal que seja trabalhar produzindo objetos para o consumo de crianças e adolescentes, Gemma não possui nenhuma habilidade com os pequenos. E tudo piora quando ela se vê na necessidade de ser tutora da sua sobrinha Cady (Violet McGraw), após seus pais morrerem tragicamente em um acidente durante uma nevasca. E como se já não bastassem as dificuldades em lidar com os traumas naturais da menina após o ocorrido, Gemma também precisa enfrentar as pressões no trabalho, especialmente aquelas que partem de seu chefe intransigente (pra não dizer assediador mesmo) Dabid (Ronny Chieng), que está preocupado com o avanço da concorrência e aguarda de Gemma e sua equipe a apresentação de algum protótipo novo - os investidores, afinal, estão batendo à porta. Como lidar com a sobrecarga e com o luto de Cady ao mesmo tempo?

É nesse contexto que Gemma decide matar dois coelhos com uma "caixa d'água" já que, há alguns dias, ela já tinha iniciado o projeto de uma boneca de inteligência artificial bastante semelhante a uma criança e que, vá lá, talvez pudesse ser a companhia ideal pra sua sobrinha. De nome M3gan (Model 3 Generative Android), o brinquedo é extremamente realista: não apenas funcionará como uma amiga pra Cady (a melhor amiga), como ainda lhe dará o suporte necessário para que a pequena possa superar suas dores. Pareada com Cady, M3gan é capaz de aprender durante a sua jornada, reconhecendo suas reações. Mais do que isso, se torna sua companheira de brincadeiras, professora, mãe improvisada (quem mais pra lhe mandar lavar as mãos depois de ir ao banheiro sem medo?), confidente e protetora. Aliás, protetora talvez até demais. E tudo se complicará quando M3gan passar a entender o entorno como uma espécie de ameaça permanente à Cady. O que ampliará seu senso de vigilância. 

E, ao cabo, pode parecer difícil imaginar que uma boneca loira, que emula uma criança de nove anos com seus olhos azuis amplos e curiosos e vestidinho cor creme seja o verdadeiro terror da coisa toda - mas é nessa contradição que reina um dos grandes atrativos. Uma leve subversão da lógica. De fala plácida e olhares de lado insidiosos, M3gan será aquela figura meio onipresente, que espreita janelas, que surge nos ambientes de forma meio inesperada, que nunca dorme. Que às três da manhã sai de casa pra perpetrar alguma vingança. Que dribla os seus códigos de programação para impedir que os humanos possam ter poder sobre ela. Que canta, que dança, que toca piano - aliás, ela executando uma versão de Toy Soldiers da Martika é o que há e não se levar a sério aqui também é ótimo! E que, se for preciso, mata (e, fala sério, isso não é nenhum spoiler, né?). Confesso que esperava pouco desse projeto do diretor Gerard Johnstone. Mas o saldo é positivo. Não posso negar.

Nota: 7,5

 

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