sexta-feira, 16 de setembro de 2022

Novidades em Streaming - Red Rocket

De: Sean Baker. Com Simon Rex, Bree Elrod, Suzanna Son e Brenda Deiss. Comédia dramática, EUA, 2021, 131 minutos.

Pelo visto o sonho de uma América "grande de novo" não deu muito certo - e eu admito ainda não saber se essa metáfora no filme Red Rocket foi proposital ou não. A obra, afinal, nos joga para o ano de 2016 onde, na industriária Texas City, a cidadezinha respira a fantasia alaranjada e megalomaníaca de Donald Trump. Na TV, o futuro presidente norte-americano - agora já ex - bravateia aquele discurso que mistura nacionalismo utópico com promessas de fortalecimento econômico. O que foi a desculpa perfeita para o exercício da xenofobia, do racismo e de outras violências. Aliás, a respeito dos preconceitos, o protagonista Mikey (Simon Rex) está retornando para a sua cidade natal após uma mais ou menos bem sucedida carreira como astro pornô em Los Angeles. Só que ele está em decadência e os problemas financeiros e com figuras não muito amistosas do meio estão batendo à porta. A América para Mikey já foi grande, se é que me entendem. Hoje, talvez só com viagra.

Só que o problema de ser uma estrela em um meio que ainda gera certa antipatia das "famílias de bem" - especialmente em uma cidadela conservadora do Texas - é que não será possível retornar ao que era antes. Mikey chega afobado à casa da ex-mulher Lexi (Bree Elrod) e da antiga sogra Lil (a falecida Brenda Deiss) clamando por um lugar para dormir que seja. Lexi foi sua antiga parceira no ramo da pornografia e acaba aceitando a condição, desde que o sujeito pague uma parte do aluguel e as auxilie nas lidas domésticas - como cuidar do jardim, cortar a grama e outros afazeres. Arrumar emprego, nem que seja em uma das tantas lanchonetes de fast food locais? Bom, essa não será tarefa fácil. Pra conseguir alguma grana ele se aproxima de uma traficante veterana (Judy Hill), iniciando um negócio de distribuição de maconha junto à uma pequena empresa que comercializa donuts. Seus clientes preferidos? Os operários das refinarias de petróleo da região.

Filmado por Sean Baker - de Projeto Flórida (2017) - naquele estilo de fotografia meio granulada, empalidecida, lo-fi - algo que meio que já se tornou a sua marca registrada -, a experiência transparece certa decadência e um tanto de desolação a cada frame. Circulando pela desértica e melancólica Texas City - com sua paisagem um tanto grotesca de distopia de ficção científica, ocupada chaminés, cabos de luz e prédios acinzentados - Mikey é o sujeito que mantém o sonho de retornar ao seu meio em grande estilo, depois de conhecer a jovem Strawberry (Suzanna Son), de apenas 17 anos. Iniciando um relacionamento meio inadequado com a adolescente, o homem adota um comportamento que beira o delírio psicótico, equilibrando certa insegurança diante de sua nova condição (não passa, afinal, de um ferrado) com a crença em uma dinâmica de poder embasada em uma (falsa) perspectiva de sucesso para além daquele ambiente.

Divertido e trágico, o filme equilibra instantes absurdamente engraçados, como aquele em que Mikey briga com o namorado de Strawberry usando como argumento o fato de ser "ator pornô", com outros que são puro escracho a respeito do momento político dos Estados Unidos, que busca juntar os cacos após a desvairada Era Trump. E, nesse sentido, não há nada melhor para evidenciar a hipocrisia de uma cidadezinha provinciana do que a cena da família que fuma maconha unida, enquanto entoa um canto bíblico. E o melhor: com a seda para enrolar o "crivo" tendo como estampa a própria bandeira dos Estados Unidos ("sou um patriota" lembra Mikey, quando adquire o material na loja). E como se não bastassem todos esses predicados, ainda há o componente nostálgico, que envolve repetidas aparições da música Bye, Bye, Bye, do N'Sync. A América queria ser grande de novo. Mikey foi grande, a sua maneira, em algum momento. Agora é hora de se reerguer em meio aos escombros. Sabe-se lá como.

Nota: 8,0


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