De: Elia Kazan. Com James Dean, Julie Harris, Raymond Massey, Richard Davalos e Jo Van Fleet. Drama, EUA, 1955, 117 minutos.
Mistura de dramalhão familiar, com aventura "agrária", o absurdamente dolorido Vidas Amargas (East of Eden) se torna ainda mais melancólico por evidenciar o talento para a intepretação de um jovem James Dean - que faleceria tragicamente em um acidente automobilístico no mesmo ano do lançamento do filme de Elia Kazan, deixando apenas três obras em seu currículo, no caso Juventude Transviada (1955) e Assim Caminha a Humanidade (1956). Na trama baseada em livro de John Steinbeck, Dean é Cal Trask um sujeito meio desajustado que é renegado pelo pai (Raymond Massey), que não esconde a preferência pelo outro filho, o seu irmão Aron (Richard Davalos), que parece ser mais hábil em tudo: no trabalho, nas escolhas, no respeito às hierarquias, na capacidade de socializar, de dialogar. Cal está à sombra de todos e a melancolia no seu olhar, bem como seus modos tão contidos quanto furiosos, são a comprovação de que o jovem guarda uma profunda mágoa. Há um grande ressentimento.
E esse ressentimento é ampliado quando ele descobre que a sua mãe (Jo Van Fleet), que ele pensava estar morta, está não apenas viva, como vivíssima - e a sequência inicial em que ele persegue sorrateiramente a senhora que vai ao banco depositar um grande volume de dinheiro já estabelece as bases do quão conturbada será TAMBÉM esta relação já que a sua mãe, inicialmente, também lhe renegará. Assim, Cal ficará de um lado para o outro, meio que batendo cabeça, convivendo com o seu irmão e a sua atenciosa cunhada Abra (Julie Harris), enquanto se esforça para auxiliar o pai a dar escoamento para a ampla produção de alfaces da família. Só que quando uma carga inteira é completamente perdida por um problema envolvendo o trem que levava o cultivo, Cal acredita que pode dar a volta por cima estimulando seu pai para que invista no plantio de feijão - o grão, em um cenário de guerra que se avizinha no ano é 1917, às vésperas da Primeira Guerra Mundial, poderá ter seu valor catapultado no mercado.
E será com a ajuda da própria mãe - uma bem sucedida dona de um bordel -, que o rapaz conseguirá um empréstimo para comprar os insumos para a implantação da lavoura. E será devolvendo o dinheiro perdido pelo pai na frustração da safra da hortaliça, que Cal acreditará, erroneamente, poder "comprar" o amor de seu genitor. E a sequência em que o rapaz praticamente implora para que seu pai diga que o ama, atirado em seus braços, enquanto chora e se desespera, talvez seja uma das mais comoventes da história do cinema - ao menos no que diz respeito a obras que versam sobre as eventualmente conturbadas relações entre pais e filhos. Cal faz toda uma manobra, consegue o dinheiro e... de que adianta afinal? Pior, ainda se envolve em brigas, acaba por trair o seu irmão, se tornando um rival na luta pelo amor de Abra, e vai ficando cada vez mais fechado, taciturno, duro. Tanto que os poucos momentos de leveza - caso da cena no parque de diversões, por exemplo - quase se tornam um alívio, ainda que o espectador pareça ter a consciência de que algo mais grave, mais sério, esteja sempre prestes a acontecer.
Hábil no desenho de produção e no uso contrastante das sombras, do escuro e dos espaços mais claros, Kazan consegue efeitos curiosos, como no caso da sequência em que Cal está em um balanço enquanto discute com seu pai - o que faz com que possamos ver e não ver o seu rosto, de forma alternada. Há ainda outros momentos de tensão, como no instante em que Cal quase cai acidentalmente do telhado da casa de Abra, num jogo de imagens tão tenso quanto inesperado. É nessas idas e vindas, com momentos mais intensos, outros mais eufóricos e uns tantos mais doloridos, que a obra de Kazan se consolida, comovendo até os dias de hoje as platéias pelo mundo. Sim, Kazan faria mais sucesso com seus irretocáveis Uma Rua Chamada Pecado (1951) e Sindicato de Ladrões (1954). Mas Vidas Amargas daria uma das duas indicações ao Oscar póstumas a Dean, que nos deixaria em 30 de setembro de 1955. E como legado ficam as interpretações cheias de vigor, de intensidade, de sensualidade e de fragilidade que o astro entregava. Bom, a história diz que Elvis Presley se inspirou nele para compor a sua persona. Não é pouco.
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