segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Novidades no Now/VOD - Os 7 de Chicago (The Trial of the Chigago 7)

De: Aaron Sorkin. Com Eddie Redmayne, Sasha Baron Cohen, Mark Rylance, Frank Langella, John Carrol Lynch e Michael Keaton. Drama, EUA, 2020, 129 minutos.

Eu não sei nem por onde começar a falar de Os 7 de Chicago (The Trial of the Chicago 7) porque é absolutamente tudo PERFEITO no filme de Aaron Sorkin (roteirista de A Rede Social, de Moneyball e da série The West Wing), que está disponível na Netflix. Pra começar, temos um roteiro extremamente bem costurado, que tem como pano de fundo a Guerra do Vietnã - e a desastrada política armamentista norte-americana -, uma das tantas chagas políticas da Terra do Tio Sam. Depois, há o grupo de atores e, admito a vocês, que fazia muito tempo que não me deleitava tanto com um coletivo tão coeso de interpretações. Os diálogos, outro ponto de destaque, ainda que eventualmente expositivos, nos auxiliam a compreender o que estava em questão naquele contexto de antes e depois da convenção do Partido Democrata no ano de 1968 e de como as decisões daquele período poderiam determinar o futuro de milhares de jovens da nação. E, por fim, há o drama de tribunal envolvente em que as bombas e explosões que marcaram as manifestações, dão lugar a um sem fim de discursos que servem para pontuar as intenções de ambos os lados.

Sério, é um filme de riqueza argumentativa poucas vezes vista. Uma obra inteligente, grande, que, de quebra, estabelece um paralelo entre aqueles dias e os cenários políticos polarizados de hoje, em que grupos radicais de extrema direita sequer têm vergonha de exibir a sua predileção por armas, guerra, sangue e ódio, ao passo que a esquerda "paz e amor", se esforça para que a imposição ideológica consiga ir para além do discurso. E talvez seja isso que torne a película ainda melhor: com a eleição norte-americana se aproximando, não é difícil enxergar a beligerância de Donald Trump sendo traduzida no formato de um Estado que se exime de qualquer culpa enquanto promove ataques sucessivos ao cidadão comum - seja ele no formato que for, negando a ciência, acreditando no vírus chinês, ou mandando milhares de jovens para uma guerra completamente sem sentido. Já o Partido Democrata é apresentado quase como uma "sucursal" dos republicanos, com políticas como as de Guerra ao Terror, sendo mantidas ano após ano independentemente da matiz partidária.


E, na realidade esse é o ponto de partida de Os 7 de Chicago. Insatisfeitos com a indicação política que o Partido Democrata pretende levar adiante em sua convenção, grupos progressistas (ou de esquerda) - como estudantes universitários, intelectuais, ativistas, hippies e integrantes de grupos revolucionários como os Panteras Negras -, pretendem protestar pacificamente, em Chicago, onde o evento acontecerá. A ideia é demover o Partido de uma escolha que não resultará no fim da Guerra do Vietnã e que sequer passará perto de amenizar as feridas abertas pelas mortes de líderes como Bob Kennedy ou Martin Luther King. Era um período efervescente, de luta por direitos, de discussões profundas em que expressões como "Guerra Cultural" começavam a surgir nos corredores de instituições e em noticiários. A ideia era protestar pacificamente e, bom, não teríamos um filmão como esse se tudo tivesse seguido como o prometido. Tudo sai do controle e sete lideranças - ou bodes expiatórios, se preferirem -, são levados ao tribunal para um julgamento de cartas aparentemente marcadas, em inacreditáveis sessões que durarão quase SEIS MESES.

E será em um inesperado drama de tribunal que a película funcionará ainda melhor. Com idas e vindas no tempo, alguns flashbacks e muita conversa, a narrativa será costurada até o instante em que a coisa sai do controle, com ambas as partes - Estado e réus -, empenhados em apresentar sua visão dos fatos. Com mais de 80 anos de idade, Frank Langella brilha como o juiz Julius Hoffmann, que não parece fazer nenhuma questão de esconder de que lado está. Já Mark Rylance exibe a habitual competência como o advogado de defesa William Kunstler, que se esforça em montar um quebra cabeça que possa livrar um coletivo que sequer se conhecia, de acusações como "formação de quadrilha" e conspiração. Há ainda Eddie Redmayne e Sasha Baron Cohen que, apesar das distintas visões do significado de "esquerda", no fim das contas trabalharão juntos para que as penas que provavelmente cairão sobre eles sejam menos injustas. E, Cohen, figurinha certa na categoria Ator Coadjuvante no próximo Oscar, ainda faz tudo com muito carisma e senso de humor. Aliás, as interações entre todos os personagens - no elenco há ainda Joseph Gordon-Levitt, Michael Keaton e John Carrol Lynch, entre outros -, faz com que a película quase alcance o status de sublime. Bom, eu não sei se sou eu que me empolguei demais, mas que venham todas as indicações possíveis. Se não é o melhor filme do ano, certamente está entre os melhores. Espero que o mundo inteiro efetivamente esteja "assistindo". Especialmente quando a gente percebe que a história insiste em se repetir.

Nota: 10

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