sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Novidades no Now/VOD - Magnatas do Crime (The Gentlemen)

De: Guy Ritchie. Com Matthew McCounaghey, Charlie Hunnam, Hugh Grante, Colin Farrell e Michele Dockery. Ação / Comédia, EUA, 2020, 113 minutos.

Não sei se sou eu que estou mais condescendente com a idade - falou o "velho" de 39 anos -, mas achei Magnatas do Crime (The Gentleman) simplesmente o melhor filme do Guy Ritchie desde Snatch: Porcos e Diamantes (2000). Em linhas gerais não há exatamente uma novidade. Ao contrário, está lá o universo do gangsterismo, com seus anti-heróis poderosos, que percorrem um roteiro rocambolesco e cheio de reviravoltas, com algumas boas doses de violência estilizada, mesclada com um senso de humor meio cínico, até mesmo torto. Só que eu, como espectador, me diverti, me envolvi. Sim, os detratores provavelmente dirão, não sem certa razão, que é o mesmo filme de sempre: algum rolo no submundo, alguns traficantes meio porra loucas, alguma luta pelo poder, personagens imprevisíveis (alguns até sexies), muita verborragia - ao ponto de a gente quase se perder - e um desfecho em que as coisas parecem se encaminhar pra uma coisa que, talvez, lá no finalzinho, vire outra. Trilha sonora, desenho de produção, fotografia, tudo sendo utilizado em favor da narrativa.

Na história somos apresentados ao poderoso traficante Mickey Pearson (Matthew McCounaghey) que, meio cansado dessa vida de plantar milhares de hectares de maconha, resolve colocar a venda o seu "negócio" para poder curtir a meia idade ao lado de sua elegante esposa Rosalind (Michelle Doclery), enquanto degusta vinhos de qualidade e frequente festas e outros espaços com boa comida e muito requinte. É o que ele chama de "gentrificação". Só que vender doze lotes de cultivo da erva espalhados em lugares aleatórios - e evidentemente escondidos - da Inglaterra, não será tarefa tão simples. Há mais de um interessado e as coisas começam a se complicar, conforme aumenta o número de figuras envolvidas no caso - que podem ser desde outros dois chefões, casos do intempestivo Dry Eye (Henry Golding) e do discreto Matthew Berger (Jeremy Strong), até chegar a um poderoso empresário das mídias, conhecido por Big Dave (Eddie Marsan), que deseja com todas as forças descobrir os segredos escusos que envolvem Mickey.

E toda essa história bastante confusa no começo - admito, é uma verdadeira enxurrada de informações, de figuras e de histórias aleatórias que são simplesmente "despejadas" na nossa cara -, é costurada a partir de um encontro entre um certo Fletcher (Hugh Grant) e um dos capangas de Mickey, no caso o seu braço direito Raymond (Charlie Hunnam). Fletcher trabalha para Big Dave e pretende chantagear Raymond, já que garante que sabe tudo sobre o império de Mickey e suas pretensões sobre passar o negócio adiante. E, conforme a história avança, com outros sujeitos se incorporando a narrativa e outras situações aleatórias (e violentas e divertidas) sendo aos poucos evidenciadas, que a gente perceberá que nem tudo parece ser como é. E, nesse sentido, não haverá nada mais saboroso do que assistir aos embates entre Fletcher e Raymond, com direito a piadinhas que sugerem a homossexualidade do primeiro - "você daria uma linda esposa", afirma ele em certa altura -, e vão estabelecendo uma certa alternância nos jogos de poder, a partir das sempre surpreendentes reviravoltas.

Sim, o que o Guy Ritchie consegue, ao mesmo tempo, é fazer uma obra que sugere certa complexidade - às vezes a desorganização quase nos desestimula, já que é muita informação o tempo todo, sem respiro -, mas que compensa com a simplicidade do arco central: um homem que apenas quer vender seus negócios escusos e sofrerá duros golpes com isso. Aliás, a quebra de certa "dureza" que uma mão mais pesada poderia trazer ao roteiro já é quebrada na primeira sequência da película, quando Mickey, aquele tipo de sujeito que sugere um certo grau de ameaça só no comportamento gestual ou no olhar, entra em uma bar para pedir um... ovo cozido! Sim, é nesses instantes cheios de excentricidades, que o diretor consegue imprimir sua marca própria: a violência parece sempre pronta a vir à tona, mas os caras do mau não deixarão um asmático sofrer com falta de ar, mesmo desejando a sua morte naquele instante. Primeiro ele utilizará a "bombinha", para somente depois ver seu trágico destino se concretizar. Nessa semana falamos bastante de Wes Anderson e sua gramática fílmica toda própria. Bom, acho que é possível afirmar que Guy Ritchie consegue um efeito bastante parecido. E, ao menos com este Magnata do Crime, de forma bastante satisfatória.

Nota: 8,0

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