De: Glen Keane. Com Cathy Ang, John Cho, Philippa Soo e Sandra Oh. Animação / Aventura, China / EUA, 2020, 100 minutos.
A Caminho da Lua (Over The Moon) é uma animação simpática, com um ótimo visual, mas eu infelizmente não consegui me conectar tanto assim com a história. E nada tem a ver com o fato de ser um produto destinado ao ao público infantil, já que produções como Divertidamente (2015) e A Viagem de Chihiro (2001) - pra citar dois exemplos -, integram facilmente a relação de grandes obras desse milênio e que aprecio demais, mesmo sendo voltadas aos pequenos. Mas o caso é que não rolou mesmo. Não curti muito com as músicas, a narrativa parece meio desorganizada, as cores soam eventualmente excessivas e a insistência atual em criar algum tipo de criatura com o único propósito de encarnar o papel de "fofinha" meio que já deu no saco. A perspectiva era boa, já que se trata da primeira parceria da Netflix com o estúdio chinês Pearl Studio, o mesmo valendo para a direção de Glen Keane, que já havia faturado o Oscar na categoria Curta de Animação por Dear Basketball. Mas, como disse, não aconteceu.
O que não significa, lógico, que as pessoas devam deixar de assistir a esse filme, até mesmo porque ele tem sido bem recebido pelo público. Cada um é cada um na experiência fílmica e é muito provável que a reação seja bem melhor no que diz respeito ao público à que obra se destina. E digo mais: apesar de eu não ter me envolvido na história, é preciso reconhecer alguns de seus méritos. O primeiro deles é possuir uma jovem menina como protagonista/heroína - o que, vamos combinar, não costuma ser a convenção do gênero. E, mais do que isso, essa menina - seu nome é Fei Fei (Cathy Ang) sonha em construir uma nave espacial para poder ir... até a Lua. O objetivo em questão é nobre: após o falecimento de sua mãe, a pequena acredita que um pulinho no satélite natural para encontrar a Deusa Cheng'e possa demover o seu pai de namorar uma outra mulher. A história de Cheng'e, que envolve a promessa do "amor eterno" sempre era contada por sua mãe, na sua infância. E esta é uma forma muito nobre de a pequena tentar se manter ligada a ela.
E essa parte inicial, admito, é muito bonita. A rotina em família, que é interrompida por uma devastadora doença, enquanto todos pareciam felizes e plenos no dia a dia como confeiteiros - especialistas numa iguaria conhecida como "Bolinhos da Lua" -, abala o espectador já na saída. Aliás, esse é um recurso que eu considero sempre valioso em qualquer animação: o de mostrar para as crianças que o sofrimento, as dores e os traumas (como a morte de um ente querido) existem na nossa vida e precisaremos lidar com eles. É preciso levantar a cabeça afinal. Só que o pai de Fei Fei se reergue tão bem após alguns anos que, bom, a fila definitivamente andou: a sua namorada é gentil e simpática, mas tem um atabalhoado filho de oito anos (o novo irmão de nossa heroína). E será justamente esse contexto meio "torto" a que ela não estava tão habituada, que a fará construir a nave que lhe possa fazer alcançar seus objetivos.
E será na segunda parte do filme que as crenças, o misticismo e outros aspectos da cultura oriental servirão como veículo para uma série de lições sobre superação de obstáculos, aceitação, luto, importância da família, entre outros. Será na Lua que a história ganhará movimento, cores, vida, com direito a sequências arrebatadoras como aquela em que Cheng'e se isola em uma espécie de "vácuo" em estado de tristeza profunda - o que, em partes, parece emular condições psicológicas como a depressão. Mas, ainda assim, senti falta de um arco narrativo um pouco mais consistente e até mais desafiador para os protagonistas, já que a impressão que fica o tempo todo é a de que o objetivo era não chocar os mais pequenos com nada que pudesse sair muito de uma certa lógica (e, se foi isso, ok). Ainda assim, mesmo com esses pequenos "defeitos" é muito provável que a obra figure entre os indicados na categoria Animação no próximo Oscar, devendo abocanhar também alguma indicação para Canção - talvez Rocket To The Moon. E era isso.
Nota: 6,5
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