quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Cine Baú - Sindicato de Ladrões

De: Elia Kazan. Com Marlon Brando, Karl Malden, Eva Marie Saint e Lee J. Cobb. Drama / Policial / Romance. EUA, 1954, 106 minutos.

Não é por acaso que o clássico Sindicato de Ladrões (On the Waterfront) se mantém, desde o ano de 1998, na oitava posição na lista de 100 Maiores Filmes do Cinema Americano, do American Film Institute (AFI) - a frente de Cantando na Chuva (1952), Crepúsculo dos Deuses (1950) e Psicose (1960), isso só pra citar algumas entre tantas inesquecíveis produções. Pra começar, o elenco é poderosíssimo, encabeçado por um ainda jovem e vigoroso Marlon Brando, acompanhado por "coadjuvantes de luxo", como Karl Malden e Eva Marie Saint. Depois, há uma potente história que envolve uma organização corrupta que comanda um sindicato responsável por organizar o trabalho dos estivadores nas docas em uma cidade portuária. Há ainda as composições impactantes de Leonard Bernstein e a condução precisa do diretor Elia Kazan - de Uma Rua Chamada Pecado (1951).

Brando é Terry Malloy, um ex-boxeador que ganha a vida trabalhando nas docas. Por ser apadrinhado pelo irmão mais velho, Charley (Rod Steiger), que atua como advogado do corrompido sindicato, o rapaz passa seus dias em trabalhos fáceis e de pouca exigência física, enquanto seus companheiros de estiva se exasperam, disputando as poucas vagas que sobram a cada dia de labor no local. Não bastasse esse contexto, Charley, ao lado do chefe do sindicato, um certo Johnny Friendly (Lee J. Cobb), ainda envolvem Terry em uma emboscada que resulta na morte do empregado Joey Doyle (John F. Hamilton), que vinha se mostrando contrário as ideias apregoadas pela sindicato. Os responsáveis pela entidade temiam que Joey pudesse delatar as péssimas condições de trabalho e o salário baixíssimo, fruto de um sistema próximo ao da escravidão, em que muitos ganham o mínimo e poucos detém grande parte da riqueza.


O assassinato de Joey provoca uma certa agitação no local. Ainda que prevaleça o silêncio entre os empregados do cais do porto - que evidentemente tem medo de retaliações, evitando qualquer manifestação sobre o tema - é a presença do padre Barry (Malden), que possibilitará que as coisas mudem de figura. O religioso, ao lado da irmã do falecido empregado, Edie (Saint), organizará uma comissão que tentará investigar os acontecimentos, que tem resultado em funcionários amedrontados - temor que se tornará ainda maior depois que Dugan (Pat Henning), morre em um "acidente" em meio ao trabalho. Claro que essa pequena resistência organizada resultará em um jogo de gato e rato, com ameaças de parte a parte e um aumento desenfreado da violência. Terry ficará no meio do caminho - já que, ainda que tenha um irmão no sindicato (ainda que discorde dos seus métodos e desconfie de um caso de traição), ele se torna próximo de Edie - que também tem desconfianças sobre suas intenções.

A obra faturou, não à toa, oito estatuetas do Oscar - nas categorias Filme (Sam Spiegel), Direção (Elia Kazan), Roteiro (Budd Schulberg), Ator (Marlon Brando), Atriz Coadjuvante (Eva Marie Saint), Direção de Arte (Richard Day), Fotografia (Boris Kaufman) e Edição (Gene Milford). Sobre a Direção de Arte, é preciso que se diga que os cenários, que conseguem equilibrar uma certa imponência (com barcos, gruas e contêineres enormes), com um ar decadente (fruto da pobreza que permeia a região litorânea), funciona como uma metáfora legítima para o clima que impera no local - de poder em meio a lama geral. Visceral em seu tema, o filme se mantém até hoje atual, não sendo difícil encontrar semelhanças no sistema em que vivemos hoje, em que grandes corporações utilizam  mão de obra barata para o enriquecimento das mais altas camadas. A cena final mostra uma rara reação a esse processo - estando para sempre na mente de qualquer cinéfilo. Fundamental.


Nenhum comentário:

Postar um comentário