sábado, 2 de julho de 2016

Disco da Semana - Red Hot Chili Peppers (The Getaway)

Coisa mais legal quando uma banda que a gente gosta - ou, minimamente, simpatiza - consegue manter um certo padrão de qualidade com os seus lançamentos (e com a sua carreira como um todo). E é exatamente esse o caso do Red Hot Chili Peppers que, após um hiato de cinco anos desde I'm With You (2011), chega agora ao seu décimo primeiro registro, com o recém lançado The Getaway. Você talvez escute alguns setores da crítica "especializada" - não é o nosso, evidentemente - dizer que a banda de Anthony Kiedis está repetindo fórmulas, apostando demais nas músicas mais calmas e outros chavões do gênero. Sim, se comparado com o 99% roqueiro - mas aquele 1% baladinha - que era o álbum de 2011, talvez a impressão que se tenha é a de que o quinteto tirou um pouco o pé do rock, para apostar mais ainda nas melodias pop. Mas isso não poderia ser considerado uma pequena reinvenção?

E outra, desde quanto o RHCP é apenas rock e barulho o tempo todo? Desde NUNCA diria eu. Mesmo nos trabalhos iniciais, mais recheados de groove e pontuados por uma indelével alma funk, era possível encontrar alguma calmaria de ares praianos ou assobiáveis. Oras, um dos maiores hits de início de carreira, a multicolorida, pop e ensolarada Behind The Sun - presente no essencial The Upflift Mofo Party (1987) - não seria mais uma canção acessível, comercial, radiofônica? E como esquecer de outro grande disco, Blood Sugar Sex Magik (1991), que promovia uma mistureba sonora capaz de consolidar no mesmo registro canções tão distintas como Give It Away e Under The Bridge. Outros exemplos, como By The Way (2002) também mostraram uma banda capaz de trafegar muito bem pelos mais variados estilos, pontuando momentos mais agridoces (The Zephyr Song), com outros mais potentes (Can't Stop).




Então, por quê os californianos fariam agora, DO NADA, um disco muito diferente, que representasse uma grande reviravolta em suas carreiras ou um outro caminho para Kiedis, Flea, Chad Smith e companhia? Não, não agora. Kiedis já passa dos 50 anos, podendo ser considerado um senhor dentro do mundo do rock, com o RHCP (pasme), completando 32 anos de carreira. Aos poucos as coisas vão se acalmando e, nesse caso, nada melhor do que pisar naquele terreno em que já se está familiarizado - valendo a premissa para fãs e para grupo. Ou seja, se você ouvir sobre uma banda cansada, pouco inovadora e etc, ignore. Evidentemente, cada um tem a sua percepção sobre cultura e nunca devemos ser definitivos. Mas aqui no Picanha estamos saudando este bom registro.

Como já deu para perceber, o disco novamente equilibra os momentos mais mansos, com outros mais "raivosos", mas o essencial da banda, que é a sua vocação para a consolidação da boa música acessível aos mais variados públicos, permanece inalterado. Uma primeira audição já faz chamar a atenção DE CARA para o single Dark Necessities, balada saborosa, de refrão grudento, que remonta a algumas sonoridades experimentadas por bandas como o Stereophonics, no início dos anos 2000 (impossível não pensar em Maybe Tomorrow enquanto a escutamos). As emanações de grupos britânicos não param por aí, sendo possível encontrar na quente e noturna The Longest Wave um inadvertido (e paradoxal) "Clima Oasis", caso a banda dos irmãos Gallagher fosse afeita as emanações mais litorâneas.


Nesse sentido, não deixa de ser curioso o clima meio britpop de algumas canções, uma vez que o trabalho foi produzido pela americano Danger Mouse - em substituição a Rick Rubin, que era o produtor oficial da banda desde o já citado Blood Sugar Sex Magik. Já o guitarrista Josh Klinghoffer - que desde 2009 substitui John Frusciante - aos poucos vai puxando um pouco mais a frente, sendo possível perceber de forma mais impactante o seu trabalho em canções mais roqueiras como Detroit e This Ticonderoga. Já Flea, segue imbatível com o baixão bem pontuado e onipresente, que pode ser "sentido" já nos instantes iniciais da faixa título. E se faltava alguma certeza em relação ao momento vivido pelo RHCP, a presença de Elton John na saborosíssima Sick Love (candidata a single e também a música do ano) é um bom exemplo de que os caras só querem fazer boas canções e se diverir. Os fãs agradecem.

Nota: 7,6

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