Esse verdadeiro caleidoscópio sonoro - recheado de samplers, efeitos, reverbs e outras programações eletrônicas - já era o que ocorria, em alguma medida, no hoje já clássico e único registro anterior disponibilizado pelo grupo, intitulado Since I Left You. Recheado de idas e vindas no tempo, recortes musicais (e fílmicos) variados e sonoridades perdidas que parecem suplicar para serem encontradas, a obra ainda possibilitava, à época, as sobreposições diversas que chegavam a beirar a aquilo que poderia ser considerado uma espécie de "esquizofrenia musical". Sem medo de brincar com estilos diversos, como o trip hop, o house, a música eletrônica, o jazz, o R&B, a surf music e até mesmo o synthpop, o trio - hoje formado por Robbie Chater (teclados e guitarra), Tony Di Blasi (teclado, baixo e vocal de apoio) e James Dela Cruz (toca-discos, teclados) - logo alcançou, com o registro inaugural, o sucesso não apenas de público, mas de crítica, o que fez com que o trabalho figurasse em todas as listas de melhores do ano 2000.
O longo hiato de 16 anos - explicado pelo fato de um dos integrantes (Etoh) ter sido deportado -, nem parece ter relevância, tamanha a capacidade absolutamente natural do coletivo, em dar continuidade ao tipo de material apresentado ao mundo em Since I Left You. Tendo como diferenciais um uso maior do hip hop - algo que pode ser percebido já no ótimo single Frankie Sinatra - e uma busca por uma sonoridade aparentemente mais acessível, os australianos buscam, com Wildfower, claramente se adequar a lógica de consumo atual, certamente diferente daquela existente há 16 anos. E que conta com ouvintes que, num mundo urgente, caótico e cheio de informação, parecem estar acostumados ao esquema estrofe-refrão-estrofe - o que talvez explique a adoção, em um maior número, de canções que contenham letras ou versos amparados por uma espécie de charme-retrô, ou mesmo que sejam perfumadas por uma ambientação litorânea próxima da de vertentes psicodélicas e acolhedoras - e que muito encontramos em bandas atuais. Tudo isso sem abandonar as suas origens, claro.
Como forma de consolidar este modelo, os australianos contam com uma série de participações especiais, como Jonathan Donahue do Mercury Rev (Colours), Toro Y Moi (If I Was a Folkstar), Father John Misty (Saturday Night Inside Out) e Ariel Pink (Live a Lifetime Love). Algo que serve também para dar uma ideia da importância do conjunto, do espírito colaborativo utilizado e da atenção àquilo que se está produzindo de melhor em termos de musical atual. Se com a sessentista Because I'm Me, o The Avalanches tem uma das prováveis melhores músicas do ano, com outras, como a psicodélica Wildflower a adocicada e oitentista Colours, a intoxicante Stepkids e a efervescente Subways, o trio - e seus colaboradores - parece dar conta da multiplicidade de possibilidades e do espírito democrático que parece prevalecer em suas construções - que, de quebra, nunca parecem isoladas em si. I feel in love for sunshine, canta a banda durante s singular Sunshine. Pra nós ouvintes é um resumo do sentimento, ao escutar este Wildflower.
Nota: 9,1
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