quinta-feira, 30 de junho de 2016

Lado B Classe A - Jeff Buckley (Grace)

Existem pessoas cuja passagem neste planeta é breve e impactante como um raio. Da mesma forma, existem obras de arte que sobrevivem ao tempo, em um legado que justifica toda uma existência pelo valor e impacto nas pessoas que por aqui ficaram. Este algo "maior que a vida" que, creio, é o desejo de muitos como forma de alcançar o sublime, e que na maioria das vezes leva anos para ser maturado e finalmente tomar forma - quando toma. Alguns conseguem o feito de maneira extremamente precoce, numa forma inconteste de genialidade: é o caso do cantor e compositor americano Jeff Buckley, aos 28 anos de idade no ano de lançamento de seu único disco oficial, Grace (1994).

Filho do consagrado músico Tim Buckley, Jeff não apenas honrou o talento herdado da família como ampliou o seu alcance, influenciando bandas tais como Radiohead, Travis, Muse, Coldplay, dentre outros - tendo recebido, inclusive, elogios entusiasmados da dupla Robert Plant e Jimmy Page (Led Zeppelin) após estes assistirem uma de suas impressionantes performances ao vivo. Unanimidade de público e crítica, Grace causou e ainda continua causando espanto nos ouvintes que tem o privilégio de se deparar com tão bela obra: seja por elevar o estilo pop rock a um patamar de grandiosidade artística sem precedentes, com influências de Jazz e até do Grunge, ou devido ao impressionante alcance vocal de seu criador, em uma entrega poucas vezes antes vista no mundo da música.


Arranjos e harmonias vocais complexas, melancolia, belas melodias, uma agressividade colocada em momentos certeiros, envoltas em uma base baixo-guitarra-bateria típica do rock and roll, são o esboço de uma fórmula peculiar e inventiva, o que torna fácil a associação das músicas a seu autor bem como perceber a influência deixada em seus seguidores. Seja nas releituras Hallelujah, clássico de Leonard Cohen, ou Lilac Wine, imortalizada na voz de Nina Simone, podemos sentir a apropriação que o jovem fez de canções tão consagradas - mas com a ousadia de quem sabe das coisas e consegue imprimir sua personalidade nelas. Do início quase transcedental com Mojo Pin, até os momentos mais agitados da faixa título e do hit Last Goodbye, passando pela linda So Real e a maravilhosa Lover, You Should've Come Over (uma das mais belas canções de amor já escritas por um ser humano), tudo é pontuado por uma tristeza e romantismo subjacente de alguém que sente as dores do mundo de forma muito intensa.

Da guitarreira de Eternal Life até o gran finale de Dream Brother, somos conduzidos a uma espiral de emoções e beleza que tornam impossível para o ouvinte ficar impassível diante de tão grandiosa obra de arte. E é no mínimo trágico que o mundo tenha perdido tamanha promessa de forma tão precoce - Buckley morreu afogado aos 30 anos de idade em um dos afluentes do Rio Mississipi enquanto cantarolava Whole Lotta Love do Led Zeppelin - embora não surpreendente. Sem sabermos se o que houve foi um acidente ou suicídio, de uma coisa temos certeza: que os anos vividos por aqueles que sentem as coisas de forma muito intensa podem perfeitamente substituir diversos outros de letargia daqueles que vivem anestesiados em rotinas sem sentido. E, mesmo tendo deixado uma significativa obra incompleta (que foi lançada, embora sem o aval final do músico), o que temos aqui é não apenas uma prova de genialidade artística, mas um registro de uma vida vivida em sua forma mais visceral e sincera. Uma obra-prima imperdível e emocionante!

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