quarta-feira, 6 de julho de 2016

Cinema - Independence Day: O Ressurgimento (Independence Day: Resurgence)

De: Roland Emmerich. Com Liam Hemsworth, Jeff Goldblum, Bill Pullmann, Jessie Usher, Sela Ward, Maika Monroe e Charlotte Gainsbourg. Ficção científica / Ação, EUA, 2016, 115 minutos.

Em geral não sou avesso à continuações no cinema, desde que haja boas histórias a ser contadas. Se é assim com séries, que muitas vezes esgotam todas as suas possibilidades em intermináveis temporadas, por quê não haveria de ser também com os filmes? Ocorre que, na maioria dos casos, as sequências funcionam claramente como um veículo destinado a gerar dinheiro para produtores e executivos do setor, na ânsia de faturar uns pilas a mais com produtos já há muito desgastados. E, infelizmente, é preciso que se diga que o que ocorre com esse Independence Day: O Ressurgimento (Independence Day: Resurgence), é exatamente isso. Prestes a completar 20 anos do lançamento do primeiro filme, num agora já longínquo 1996, a data era uma ótima ocasião para, na onda dos reboots, retomar a série. Não havia por quê não acreditar: a tecnologia avançou, o mundo mudou bem como o pensamento, enfim... juro que acreditei que esta podia ser uma ótima continuação. Mas não é.

Tudo o que primeiro filme tinha de legal, de tenso, de divertido, inexiste nessa sequência. Posso estar sendo nostálgico talvez, mas em 1996 tudo era diferente. Para assistir um filme era realmente necessário ir ao cinema - ou aguardar o lançamento em vídeo cassete. Netflix? Internet para buscar alguma versão online? Nada. Lembro de ter ido com a família assistir a obra estrelada por Will Smith no antigo cinema do Geneshopping. Foi um dos acontecimentos do ano. Passamos dias falando do filme, que depois chegou a criar uma certa aura cult - a obra (pasme) figura até mesmo no livro 1001 Filmes Para Ver Antes de Morrer. Mas não é por acaso. A história era levemente inovadora - ao menos no que dizia respeito ao quesito "destruição do mundo" -, o elenco era absolutamente carismático - a química entre Smith e Jeff Goldblum é impagável -, o suspense tornava o filme quase sufocante - a cena em que, pela primeira vez, a sombra da grande nave mãe toma mãe toma conta de tudo, certamente está na memória dos fãs de cinema. Só que tudo isso se perdeu nessa sequência. Até as cenas de ação conseguem ser piores. E isso que o diretor é o mesmo.


A trama, praticamente igual a do primeiro, retoma os eventos ocorridos 20 anos atrás. De lá para cá, a Terra se uniu para combater o perigo alienígena, com direito a instalações construídas em Saturno e na Lua para monitoramento da movimentação dos OVNIs. Como os ETs também gostam de comemorar o 04 de julho - o Dia da Independência americana - eles resolvem retornar ao nosso planeta exatamente nesse dia, após receberem uma espécie de "pedido de socorro" interplanetário, vindo dos presos "políticos" mantidos em nosso solo. Isso significará uma nave-mãe ainda maior e aparentemente mais poderosa, que chegará ao nosso planeta sem nenhum tipo de suspense, de modo grosseiro, com o objetivo de sugar a energia de nosso núcleo magnético (se é que entendi direito), comprometendo assim a nossa existência.

Digamos que a parte do "se é que não entendi direito" não é de graça. Ainda que a obra se trate de uma diversão escapista e "nada cerebral", poucas vezes assisti a um filme tão confuso. Seja nas explosões, nas batalhas aéreas ou de solo, tudo é uma bagunça só, sensação ampliada pela fotografia permanentemente escurecida e pelo desenho de produção artificial. Além disso, ID2 tem dezenas de personagens. Além de resgatar Goldblum (que vive o cientista David Levinson) e Pullmann (o agora ex-presidente Whitmore), além de outros do original, era necessário acrescentar novos personagens, que despertassem a empatia das novas gerações, o que ocorre com o piloto Hiller (Usher), filho do personagem de Smith, a agente Patrícia (Monroe) filha de Whitmore e Jake Morrison (Hemsworth), que interpreta o bonitão descolado, que faz tudo ao contrário mas salva o dia, porque, afinal de contas, cinema catástrofe precisa de bons clichês no que diz respeito aos personagens, quase como um atestado de sua lógica de existência. Mas isso é quase nada, se comparado ao amontoado de personagens secundários absolutamente dispensáveis e que não causam NENHUMA comoção em quem assiste. Até a Charlotte Gainsbourg tá lá no meio, sabe-se lá fazendo o quê. E, nesse contexto, nada pior do que assistir a morte de um personagem que deveria ter alguma importância e não fazer muito caso já que, afinal de contas, os próprios personagens parecem não se importar muito, fazendo piadinhas bobas (e sem graça) o tempo todo, mesmo em situações de real perigo. E, muitas vezes, pouco depois da morte de algum ente querido.


Abusando, ainda, da paciência dos espectadores com diálogos quase surreais de tão improváveis ("vamos chutar algumas bundas alienígenas", "compraremos aquela casa que você tanto sonhou se ela ainda estiver lá quando voltarmos"), a obra ainda peca naquilo que poderia ter de mais representativo, no caso o significado e a importância da união dos povos enquanto IGUAIS na "luta" por uma causa maior e comum. Algo mostrado ao final do primeiro filme e, muito melhor explorado no até hoje clássico O Dia em Que a Terra Parou (1951). Sem se preocupar ainda com uma eventual misoginia, o filme parece retratar as mulheres apenas como "acessórios" de seus maridos/namorados/pais, cabendo a elas o papel apenas de aguardar o retorno de seus fortes, machos e patriotas homens de volta para casa. (e de preferência com o jantar já posto) Para um filme que gerou tanta expectativa, ID2 é mais catastrófico do que o próprio gênero do qual faz parte. E a perspectiva de uma série de filmes já encomendada daqui para frente, não é nada menos do que tenebrosa. Nesse caso, acho que nem os aliens nos salvarão.

Nota: 1,6

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