sexta-feira, 8 de julho de 2016

Disco da Semana - Wado (Ivete)

O cantor Wado talvez seja, na atualidade, um dos artistas que melhor represente aquilo que conhecemos por "novas formas de se consumir música". Em 15 anos de carreira, são nove discos lançados. Sim, NOVE. Todos eles disponíveis em seu site, para download gratuito. Sério, com alguma habilidade da arte de clicar e de extrair música dos arquivos, em talvez no máximo sete minutos, é possível ter todos os registros à sua disposição. Não existe mais música boa sendo feita no País, atualmente? Ao contrário, nunca se fez tanta música boa, diversificada, acessível, capaz de dialogar com todos os extratos da sociedade, indistintamente. O que mudou foi como ouvimos. Se o Wado não tem nenhuma música tocando nas rádios - não sejamos injustos com os nossos queridos da Univates FM, aqui de Lajeado, que desde a semana passada já incorporou o single Alabama à sua programação - não importa. NÓS podemos escolher o que ouvir. E isso, é verdade, a tecnologia tem de bom.

Em sua diversificada obra, o catarinense sempre foi mestre em se apropriar dos mais variados estilos, absorvendo características sonoras distintas e transformando-as em um produto ao mesmo tempo divertido, irônico, repleto de crítica social e MUITO brasileiro. E tudo isso sem esquecer daqueles elementos capazes de transformar uma canção em uma arte de consumo imediato, direto, sem firulas. Wado é pop, mas é hip hop, rap - esses dois estilos muito presentes em seu cancioneiro e em discos variados, como, Cinema Auditivo (Diabos), A Farsa do Samba Nublado (Grande Poder) e Atlântico Negro (Boa Tarde Povo, Rap Guerra do Iraque), mas é rock, música eletrônica, samba, funk, baladinha romântica, reggae... e agora é axé, como entrega o nome de seu mais recente registro, Ivete.



Produzido pelo próprio cantor - e gravado no estúdio Gravamusic - o álbum procura, de acordo com o material de divulgação, ir além daquilo que já foi feito anteriormente em Atlântico Negro (2009), buscando esmiuçar e vasculhar os guetos. "Ivete é a musa a não ser alcançada, ela é norte, mas não é ela quem canta no disco", explica o artista. "Ela é a musa intocada da empreitada". Uma atenta audição ao disco nos permitirá inferir que, para o cantor, a escolha pela vertente também está relacionada a um caráter ideológico, social e racial. O axé, enquanto manifestação artística, surge em meados dos anos 80, na Bahia, promovendo uma mistura de ritmos africanos e latinos, com reggae, forró e maracatu. "Musicalmente, procura-se evocar os primeiros discos solo de Moraes Moreira", explica Wado, em alusão ao cantor baiano, que poderia ser considerado um dos precursores da vertente que, mais tarde, seria impulsionada pela mídia.

Não à toa, o catarinense regrava Gilberto Gil e Moreno Veloso (Filhos de Ghandi), apresentando ainda uma nova coleção de canções capazes de evocar artistas diversos como Timbalada e Carlinhos Brown. Se o disco é enxuto em tamanho - são apenas 24 (imperdíveis) minutos - ele é grande no que se propõe, sando da zona de conforto naquilo que poderíamos considerar um artista já estabelecido, e com uma boa gama de fãs, dentro do nosso cancioneiro. Se as letras saem um pouco do caráter mais questionador em relação ao contexto político atual, observado anteriormente, para apostar num clima mais festivo - e até mesmo sensual (Um Passo a Frente, Sexo, Você Não Vem) -, é porque Wado também quer se divertir, gerando uma música que equilibra frescor e leveza a partir do diálogo entre a tradição e o moderno. Os fãs agradecem.

Nota: 8,0


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