segunda-feira, 11 de julho de 2016

Encontro com a Professora - Phoenix (Phoenix)

De: Christian Petzold. Com Nina Hoss, Ronald Zehrfeld, Uwe Preuss e Nina Kunzendorf. Drama, Alemanha, 2014, 98 minutos.

Conta a mitologia egípcia que a fênix é uma bela ave de asas coloridas, única da sua espécie, que, quando sente que vai morrer, faz um ninho de folhas aromáticas, deita-se nele e incendeia-se. Das cinzas, renasce como uma nova fênix, cuja missão é transportar os restos de sua antecessora para o altar do deus Sol. Com base nesse mito, em uma interpretação possível, se constrói Phoenix, filme alemão de 2014, dirigido por Christian Petzold. No elenco, estão Nina Hoss, Ronald Zehrfeld, Uwe Preuss, Nina Kunzendorf. Há momentos em que lembra um pouco Ida, aquela maravilha de 2013. E, para melhorar, é um filme embalado por um delicioso cancioneiro jazzístico, com destaque para Speak low, de Kurt Weil.

A trama, ambientada na devastada Alemanha pós-Segunda Guerra, conta a história de Nelly, cantora que fora aprisionada pelos nazistas. Durante o tempo no campo de concentração, seu rosto foi desfigurado por um tiro. De volta à liberdade, um cirurgião plástico restaura a sua face. Agora, ela está pronta para procurar o marido desaparecido, Johnny, e ela transforma esta busca no seu objetivo de vida. No entanto, quando Nelly finalmente o reencontra, no bar Phoenix, ele não a reconhece. Ou, pior, percebe que é muito parecida com a “falecida” e arma um plano: ele irá treiná-la para que finja ser Nelly. Assim, ele poderá usurpar a fortuna da esposa. Meio tonta pela situação, a mulher aceita o embuste, sempre na esperança de que Johnny a reconheça ou que demonstre, de alguma forma, que ainda ama a esposa desaparecida. Mas, na medida em que convivem, o marido que ela imagina vai se desvanecendo, apesar da sutil atração que existe entre ambos.



Este plot facilmente poderia se transformar num clichê romântico. Mas a direção segura de Petzold não permite isso. Às vezes, o filme quase escorrega para o melodrama. Uma cena como o suicídio de Lene, amiga de Nelly, poderia parecer improvável. No entanto, demarca bem o desespero do pós-guerra. Propositalmente minuciosa, seguimos passo a passo a transformação da protagonista, o rosto ferido, depois marcado pela cirurgia e pela longa reabilitação. Isso cria, apesar da morosidade narrativa, uma expectativa ante o provável reconhecimento de Johnny em relação à esposa. Parece-nos que, na medida em que ela for recuperando a aparência, ele irá percebê-la como sua mulher. Mas ela está morta para ele.

Não deixa de ser, retomando o mito da fênix, o momento em que Nelly deveria renascer. Só que ela não está preparada para deixar as próprias cinzas. Encontrar o marido é a única coisa concreta que existe neste mundo novo e brutal. Felizmente, chega um momento em que ela consegue cantar de novo. É quando Speak low se fixa na cabeça da gente, contando uma história que só a genialidade de Kurt Weil poderia compor.


Texto: Rosane Cardoso

2 comentários:

  1. Texto instigante e excelente contextualização.
    Vou ter que conferir. Muito obrigada, Rosane.

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  2. Texto instigante e excelente contextualização.
    Vou ter que conferir. Muito obrigada, Rosane.

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