quinta-feira, 28 de julho de 2016

Lado B Classe A - Of Monsters And Men (My Head Is An Animal)

Aaaaah, a sensação de experimentar um daqueles discos que, sabemos, se tornará um dos "do coração". Todos vocês que amam música certamente já passaram por isso. As primeiras audições - muitas vezes recomendadas por alguém. O reconhecimento dos sinais que revelarão o registro como um documento íntimo de nossos gostos mais particulares. A ampliação da apropriação sobre o material a cada novo reencontro - exercício prazeroso que quase nos faz sentir parte daquilo que escutamos. E quando percebemos, o disco já está no repeat em looping infinito e, nós, com a alma desvelada, cantando os refrãos e versos a plenos pulmões, dançando pela casa e, imaginando, enfim, quão bela pode ser a música enquanto exercício de arte. Digamos que é exatamente este o meu sentimento quando penso no primeiro registro dos islandeses do Of Monsters And Men, intitulado My Head Is An Animal, lançado em 2012.

É um trabalho tão descaradamente pop, tão ensolarado e repleto de palminhas, lálálás, heys!, vozes que se encontram em coro e arranjos naturalmente acessíveis que, gostar desse disco, quase se revela em um daqueles "prazeres proibidos" que só nos permitimos sozinhos em casa, sem que ninguém esteja vendo. Mas, verdade seja dita, é justamente ao contrário. Ouvir hits efervescentes como King and Lionheart (a favorita da vida), Mountain Sound, From Finner e Little Talks, parecem ser um convite natural para a reunião de amigos, para os momentos de parceria com quem se gosta, enfim, para a celebração da vida. Fico aqui tentando imaginar - e a internet nos permite chegar muito próximos disso, por meio de vídeos do Youtube - o que deve ser uma apresentação ao vivo desse quinteto, capaz de equilibrar voz, violão, guitarra, baixo e bateria de uma forma que até parece familiar - ainda que nunca óbvia.



A presença de dois vocais, um feminino (Nanna Bryndís Hilmarsdóttir) e um masculino (Ragnar "Raggi" Þórhallsson), é capaz de gerar, dada a natureza indie folk do grupo, inevitáveis comparações com os canadenses do Arcade Fire - sensação ampliada pela existência de outros instrumentos de apoio, aqui e ali, como piano, acordeão e trompetes. (E já posso imaginar os fãs de Win Butler e companhia executando verdadeiros saltos ornamentais de desgosto, com o comparativo entre uma banda cool e totalmente hypada e outra assumidamente pop, feita para o canto das massas em estádios) Os elementos do folk também são capazes de aproximar o grupo de outras bandas bacanas da atualidade, entre elas o Vampire Weekend e o Mumford and Sons - no caso dessa última, se ela não fosse tão rançosa e certinha ao ponto de irritar. (não à toa, Sloom, a única canção meio sem graça, é a que mais se aproxima daquilo que produzem os ingleses)

Apostando em letras que abordam a nostalgia pela juventude que se vai (Six Weeks), a modernidade e a perda da inocência (Dirty Paws), as dificuldades diante de um amor impossível (Love Love Love) e a dor pela existência que chega ao fim (Little Talks), a banda ainda mostra forte versatilidade - até mesmo fugindo do óbvio esquema do lirismo nonsense e do caos cotidiano que ocupa muitas das mentes (afetadas) do mundo da música, nos dias de hoje. Isso sem falar no equilíbrio certeiro entre os momentos mais agitados e aqueles de calmaria, que permitem ao ouvinte um respiro em meio as glórias cantadas a plenos pulmões e os momentos mais íntimos. Se com o disco seguinte, Beneath The Skin (2015), os islandeses mostraram maturidade em canções mais sóbrias e até mesmo introspectivas, foi com a alegria juvenil e o canto alegre, descompromissado e radiofônico de seu primeiro álbum, que conquistaram o mundo. Talvez este nem seja um Lado B, verdadeiramente. Mas, sem dúvida, é Classe A!

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