quinta-feira, 14 de julho de 2016

Disco da Semana - Biffy Clyro (Ellipsis)

O trio escocês Biffy Clyro é uma banda relativamente pouco conhecida no Brasil, apesar de ser bastante cultuada no Reino Unido - onde obteve o título de melhor banda pelo New Musical Express à época de seu lançamento anterior, o álbum Opposites, de 2014. Formada em 1995, a banda chega a seu sétimo disco com o lançamento de Ellipsis, após ter liderado uma série de festivais importantes. Lembro direitinho quando assisti seu show no iTunes Festival alguns anos atrás e me surpreendi com uma performance visceral e explosiva. Seguindo a cartilha do melhor rock alternativo produzido atualmente, o trio investe mais uma vez em uma produção caprichada que deve alçar o grupo ainda mais ao mainstream, cravando de vez seu nome entre as grandes bandas da atualidade - posto este que começou a ser galgado a partir do álbum Puzzle, de 2007.

Ao optar pelo produtor Rich Costey (Fiona Apple, Muse, Franz Ferdinand, entre outros) houve uma sensível mudança na sonoridade dos escoceses, trazendo uma produção recheada de elementos eletrônicos e truques de estúdio espertos, de forma a dar novas camadas ao som da banda. Interessante notar como as características tão associadas ao grupo continuam presentes: seja nos riffs de guitarra, nas quebras de andamento ou no peso conjugado às melodias radiofônicas, as composições do líder Simon Neil não causam estranhamento aos fãs que esperavam mais daquilo a que já estavam acostumados - embora em entrevistas Neil tenha dito que este era o "melhor disco", ou "o mais experimental" até o momento. Se existe algum experimentalismo aqui é mais na busca de elementos inéditos (o uso da eletrônica mencionado anteriormente) mas que de forma alguma descaracterizam o seu etilo já consagrado.


O primeiro single, Wolves of Winter, impressiona já na abertura do disco: com bateria e guitarras marcantes, traz o que de melhor a banda sabe fazer: peso, visceralidade e melodia, tudo casado perfeitamente com a produção meticulosa de Costey. A seguinte, Friends and Enemies, tem tudo que um hit radiofônico exige: eletrônica na medida, versos, backing vocals e refrões melodiosos, guitarras encorpadas encaixadas em momentos certeiros e uma letra amargurada (embora irônica) que ficará grudada como chiclete na cabeça do ouvinte. O segundo single, Animal Style, é outro petardo: um rockão no melhor estilo do Biffy que deve agradar em cheio os fãs de outrora. Liricamente este talvez seja um disco mais denso, pelo menos se comparado às obras anteriores. As letras de Neil estão um pouco mais pessimistas e desoladas. Até as baladas tem um quê de tristeza: se na linda Re-Arrange temos Neil se desculpando (em uma suposta canção feita para sua esposa) e agradecendo o apoio recebido em um momento de depressão, tentando reajustar a sua vida e de sua companheira, na acústica Medicine temos o sujeito da canção lamentando, reconhecendo seu problema e o quanto isso prejudica a convivência com seus pares, bem como sua busca por alívio em subterfúgios que o fazem esquecer de si próprio.

Talvez o único problema de Ellipsis seja lançar suas melhores cartas logo no início da audição. Com uma primeira metade praticamente irrepreensível, cria-se uma expectativa que falha em se concretizar. Embora canções como Herex (com seu andamento quebrado e melodia bacana) ou Flammable (outra candidata a single para tocar no rádio) sejam cativantes, o terço final desaponta um pouco. Se em On a Bang temos novamente o peso e uma harmonia que nos pega de surpresa, Small Wishes consegue ser apenas simpática ao emular o country em uma canção que destoa do resto. Howl traz um rock inofensivo e previsível enquanto que People é uma balada que, de forma desesperançosa, promete um ápice que jamais chega, encerrando a obra em uma nota agridoce que deixa um gosto levemente amargo na boca do ouvinte. A edição deluxe do álbum traz a dispensável Don't, Won't, Can't e a boa In the Name of the Wee Man, não modificando o resultado final.

Sem ser a maravilha toda que a banda prometeu, nem seu melhor álbum (os discos Opposites e Only Revolutions continuam sendo meus favoritos), Ellipsis pode e deve contribuir para que o Biffy Clyro alcance novos públicos e chegue aos ouvidos via FM's da vida, com seu som peculiar pronto para conquistar os apreciadores do bom rock. E não seria nada mal ver os caras aparecendo no Brasil para alguns shows, visto que suas apresentações ao vivo conseguem ser ainda mais intensas que seus discos.

Nota: 8,0.

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