Filmes de ficção científica geralmente são associados a mega produções com orçamentos estrondosos, inúmeros efeitos especiais e muita ação. No entanto, os melhores exemplares do gênero são aqueles cujas ideias trabalhadas sobressaem-se às explosões e catástrofes abordadas exaustivamente pelos autores. Obras clássicas como 2001 - Uma Odisséia no Espaço, de Stanley Kubrick e Solaris, de Andrey Tarkovsky são muito mais sobre a exploração de conceitos do que propriamente do ambiente espacial, coisa que se repete aqui no surpreendente Lunar (Moon), de 2009, somente agora disponível no Netflix.
Na trama dirigida por Duncan Jones (filho do astro David Bowie, que parece ter herdado o talento da família por sinal) Sam Rockwell interpreta o astronauta Sam Bell que, enviado pela empresa Lunar Industries para uma missão de 3 anos no espaço, deverá manipular máquinas que estão explorando superfície da Lua de forma a obter energia limpa para que a mesma seja enviada para a Terra (que, num futuro aparentemente não muito distante, está sofrendo um colapso energético devido às ações irresponsáveis dos humanos) numa espécie de "garimpo" espacial. Acontece que a única companhia de Sam no espaço é o robô GERTY (na voz de Kevin Spacey) que, dotado de imensa inteligência (uma referência clara a Hal 9000 do já supracitado 2001), é o contato da nave com a corporação que os enviou nesta missão solitária.
Revelar mais da trama seria estragar a surpresa para quem assiste, mas pode-se dizer que apesar do clima gélido da película (o filme se passa praticamente em um só cenário e com um ator de carne e osso em cena quase todo o tempo) as discussões levantadas pelo roteiro do diretor Jones e Nathan Parker são extremamente humanas e relevantes, tais como a necessidade que temos de nos relacionar uns com os outros, a ganância das grandes corporações, a responsabilidade frente às pessoas e ao planeta e, ainda por cima, a ética relacionada aos avanços tecnológicos. Mais uma prova de que um filme para ser marcante independe de um grande orçamento, Lunar é uma obra que reverencia clássicos do gênero porém sem ser derivativa, revelando a sua força de maneira inteligente e pouco óbvia - uma pérola a ser garimpada.
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