quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Disco da Semana - The Libertines (Anthems for Doomed Youth)

É até engraçado pensar que os ingleses do The Libertines lançaram, com o recém chegado Anthems for Doomed Youth, apenas o terceiro disco da carreira. As opiniões se dividem na hora de falar sobre o hiato da banda, que durou mais de 10 anos - o último álbum foi o homônimo, de 2004. É de conhecimento público os problemas do vocalista Pete Doherty com drogas pesadas, como heroína e crack. Também parecem ter contribuído para a pausa forçada os seguidos desentendimentos, muitos deles por diferenças artísticas, com o guitarrista Carl Barât - que, a bem da verdade, se exasperava com o comportamento autodestrutivo do companheiro de grupo. Após uma série de reencontros e apresentações especiais, foram sendo constituídos os novos materiais que constituiriam o novo trabalho. E que trabalho!

Não sei se sou eu que estava saudoso do grupo, mas o novo disco é uma coleção de belas canções que, se não é tão urgente e acachapante como os dois primeiros trabalhos - em especial o sensacional primeiro disco Up the Bracket (2002) - no mínimo merece ser ouvido, quase como que numa sessão nostálgica, que nos faz retornar ao início dos anos 2000 - quando grupos como The Strokes, Arctic Monkeys e White Stripes dominavam as "paradas". Sim, os tempos são outros, muita coisa mudou na forma de se consumir música. Só não mudou a paixão pelas boas melodias construídas a partir de guitarras tocadas de forma crua, levadas de baixo e com a bateria direta e bem ditada. Além de um vocal que fica situado entre o post-punk dos anos 80 e o rock de garagem dos 90. Sem deixar a personalidade própria de lado, evidentemente.


Ainda que canções como Barbarians, que abre o trabalho, tenham o mesmo pique de outrora, parece haver no registro uma natural diminuição da velocidade, algo bastante comum para bandas que já possuem algum tempo de estrada. É só pensar nos ingleses do Supergrass, por exemplo, na época do I Should Coco, comparando-os no quase contemplativo Road to Rouen. O mesmo vale para o Green Day, que quando surgiu para o mundo no disco Dookie era um e com o recente American Idiot parecia outro. Doherty certamente passou poucas e boas em seu período de "adicto", fazendo de tudo o que é loucura, querendo agora apenas curtir, tocar com a sua banda e aproveitar as coisas boas da vida. Algo que fica bastante nítido na litorânea Gunga Din, ou mesmo nas reflexivas Iceman, The Milkman's Horse (uma das MELHORES do ano!), You're My Waterloo e na música título.

Oh they were as boys, tell me what then did they know / What was it they learned and where did they go canta um Doherty, quase como que olhando para trás, para a própria vida e carreira, na sugestiva Fame and Fortune. A propósito, as referências a Londres - e a Inglaterra como um todo -, suas ruas, seus lugares, seus clubes e boates, suas personalidades, as pessoas comuns que lá vivem, tudo aparece nas características (e divertidas e espertas) letras da banda. É muito bom ter o Libertines de volta, ainda que talvez eles façam pouca diferença no abarrotado atual mundo da musica. De qualquer maneira, o que se pode notar é uma evolução, que talvez possa indicar o futuro a ser perseguido pelo grupo de Doherty e companhia. Relevantes ou não, um retorno que acerta em cheio o coração dos fãs. E iss, definitivemente, vale muito.

Nota: 7,5

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