terça-feira, 15 de setembro de 2015

Cinema - Homem Irracional

De: Woody Allen. Com Joaquin Phoenix, Emma Stone, Parker Posey e Tom Kemp. Comédia dramática / Suspense / Drama. EUA, 2015, 97 minutos.

Existe um episódio da espetacular série Breaking Bad em que Walter White, o protagonista vivido de forma arrebatadora pelo ator Bryan Cranston, assiste a morte da namorada de Jesse Pinkman (Aaron Paul), engasgada com o próprio vômito. Walt poderia ter salvo a moça - que estava dormindo - com um simples movimento de corpo. Mas preferiu vê-la agonizando, pois, em seu julgamento, ele acreditava que, para os seus negócios - a produção de metanfetamina em grande escala - seria melhor que a jovem batesse as botas. Do ponto de vista filosófico, Walt pode ser considerado, de acordo com os pensadores do século XIX Jeremy Bentham e John Stuart Mill, um conseqüencialista. Que é aquele sujeito que analisa o custo-benefício para todas as ações mundanas, determinando a partir daí se a atitude é boa ou ruim. Nem que seja algo moralmente absurdo!

Todo mundo sabe que as teorias filosóficas são, em muitos casos, pautadas por uma ética anacrônica ou questionável - e aqui está um sujeito que entende pouquíssimo delas. Mas elas eram motivo de reflexões as mais profundas, sendo verbalizadas por autores hoje considerados universais, como Platão, Aristóteles, Nietzsche e Sartre. E também servem como pano de fundo, para o mais recente filme do diretor Woody Allen, chamado Homem Irracional (Irrational Man). Na trama, Joaquin Phoenix - quem mais poderia ser? - é o professor de filosofia em crise existencial Abe Lucas, que chega para lecionar em uma pequena cidade dos Estados Unidos. No lugar, uma das alunas, de nome Jill (Emma Stone), se aproxima do docente, fascinada pelo seu intelecto e pela sua melancolia natural. Ao mesmo tempo, a professora Rita (Parker Posey) tenta ter um caso com ele - ainda que seja casada.



Abe é deprimido, não consegue se satisfazer sexualmente e vê pouco significado em sua vidinha simplória. Até o dia em que, ao ouvir uma conversa em um bar em que está acompanhado de Jill, ele tem um clique. No local, uma desconhecida lamenta a perda da guarda do filho, após uma decisão judicial. Algo que, na concepção do Abe, poderá ser evitado caso o juiz Spangler (Tom Kemp), que decretará a sentença, seja assassinado. É a partir daí que ele tentará elaborar um plano perfeito, que dê cabo de sua (maluca) ideia, sem ser descoberto. Como um verdadeiro conseqüencialista, o professor enxerga a "parte boa" daquilo que está fazendo - ajudando uma mulher a manter o seu filho por perto. E como resultado, Abe reencontra o prazer de viver em seu mundo particular. Ainda que o risco de ser descoberto passe a rondá-lo de maneira permanente.

É preciso que se diga que nem de longe é o melhor filme de Woody Allen - ainda que supere os recentes Magia ao Luar e Blue Jasmine, ainda fica muito distante de clássicos como Noivo Neurótico Noiva Nervosa, Manhattan, A Rosa Púrpura do Cairo e Zelig (o favorito da casa). Algo que pode ser constatado especialmente pelas ideias requentadas de películas anteriores do próprio diretor. Mas ainda assim é um filme que diverte - Phoenix está hilário! - e mantém um clima de suspense, sem esquecer a habitual ironia do prolífico diretor, que completará 80 anos em dezembro. Os fãs de filosofia irão se deliciar com as teorias abordadas, ainda que de forma superficial - nas entrelinhas podem ser percebidos aspectos relacionados a autenticidade de Camus e Sartre ou mesmo a Teoria do Super-Homem e a vontade de potência de Nietzsche. Quem gosta de Allen, definitivamente não pode perder.

Nota: 7,0

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