terça-feira, 22 de setembro de 2015

Disco da Semana - Ryan Adams (1989)

Que o Ryan Adams é um dos caras mais bacanas do mundo da música não é novidade. Prolífico e extremamente talentoso, o cantor e compositor já aprontou várias façanhas. Dos primórdios com a banda de alt-country Whiskeytown em meados dos anos 90 até a sua carreira solo, que persiste até os dias atuais, Adams tem quase 20 discos lançados, sendo alguns deles verdadeiras gemas. Da sua estréia solo com Heartbreaker, onde emulava Bob Dylan em um disco incensado pela crítica, até o álbum subsequente, Gold (um dos melhores da década passada), o garoto prodígio colheu elogios dos mais variados - inclusive pelo ídolo Elton John, que convidou o músico a participar de alguns shows junto dele. Seu mais recente álbum, intitulado simplesmente Ryan Adams, foi eleito aqui no Picanha o melhor disco de 2014 por este que vos escreve.

Bebendo das fontes clássicas da música, principalmente o rock, pop, folk, country e blues, o inquieto Adams chegou a gravar um disco de punk rock (1984) e até de metal (Orion). As brincadeiras incluindo seu nome e a similaridade a seu quase-xará Bryan rendeu, inclusive, encrencas em shows e versões ao vivo de músicas como Summer of 69 e Run to You, hits do autor da clássica música tema do filme Robin Hood (aquele com o Kevin Costner). Pra sorte dos fãs, a promessa de em pouco tempo sermos brindados por novas canções do artista quase sempre se concretiza. Há poucos meses atrás Ryan havia informado os fãs via Twitter que iria regravar, nada mais nada menos, que o multi-platinado disco 1989 da cantora pop Taylor Swift (!!!). O que parecia ser uma pegadinha começou a ser levado a sério quando trechos das gravações foram sendo postados no Instagram do artista, e a própria Taylor se revelou extremamente entusiasmada com a ideia. E eis que chegamos ao novo álbum de Ryan Adams, 1989.


Conforme havia sido divulgado, não seria apenas um disco de covers, mas sim de releituras - como se as músicas do popíssimo álbum de 2014 fossem tocadas (segundo Adams) pela banda The Smiths. E, realmente, o que vemos aqui não é uma simples reprodução de canções anteriormente gravadas, mas sim uma apropriação das letras e melodias com uma roupagem totalmente autoral, melancólica e que soa exatamente como... Ryan Adams! Desafio alguém que ainda não ouviu o disco da Taylor a ouvir este álbum e dizer que não cabe perfeitamente na discografia brilhante de Adams. Todos os elementos que consagraram o artista e agradam os fãs estão aqui: a beleza das interpretações, as melodias cativantes, o instrumental cru (que contradiz totalmente as gravações originais das canções) e a paixão pela música como um todo, casam perfeitamente com as composições de Swift (sim, a garota compõe as próprias músicas ao violão), por mais estranho que isso possa parecer.

Do início mais agitado e oitentista com Welcome to New York, à versão voz e violão folk do hit Blank Space, passando por releituras absolutamente inesperadas como, por exemplo, Out of the Woods que, na versão de Adams, se transforma em um épico emocionante e com um final estendido de arrepiar, o álbum não pára de surpreender: tente ouvir I Wish I Would e não se emocionar, ou cantarolar junto a versão a lá Wonderwall do hitzaço Bad Blood. A nostalgia anos 90 vem com força total na canção Wildest Dreams e seu climão The Wicked Game, aquela baladinha do Chris Isaak. Falando em balada, This Love se transformou em uma canção dolorosa levada ao piano enquanto I Know Places poderia muito bem estar em um filme de faroeste do Tarantino. A ironia disso tudo é que, embora muita gente tenha achado absurda e até mesmo engraçada a ideia desta obra, a junção Adams/Swift acabou por gerar um dos mais belos discos do ano até agora. Se você é fã do original, vá nesse sem medo - será uma experiência totalmente nova. Agora, o inverso também pode ser verdadeiro - e aí, vai encarar?

Nota: 9,5

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