sexta-feira, 31 de julho de 2015

Pérolas do Netflix - Cartas ao Padre Jacob

De: Klaus Härö. Com Heikki Nousiainen, Kaarina Hazard e Jukka Keinonen. Drama, Finlândia, 2009, 75 minutos.

Poucos filmes vão se encaixar tão bem na nossa categoria de Pérolas do Netflix, quanto essa pequena preciosidade do cinema finlandês chamada Cartas ao Padre Jacob (Postia Pappa Jaakobille) - para encontrá-lo na plataforma de streaming, procure pelo título em inglês Letters to Father Jacob. Se trata de uma obra ao melhor estilo da tradição europeia, especialmente daquela relacionada aos países nórdicos - não chegando a ser uma surpresa pensarmos imediatamente em Bergman conforme a fita se desenrola. O Padre Jacob em questão é um sacerdote cego que vive isolado em algum lugar do interior da Finlândia. Por conta da deficiência visual, ele "contrata" uma ex-presidiária, chamada Leila, que lhe auxiliará na leitura de dezenas de cartas que chegam até ele, com o objetivo de ter como resposta uma palavra de conforto ou a simples indicação de um caminho a ser seguido.

Os pedidos ao presbítero podem ser os mais banais, podendo estar relacionados a um filho que anda tendo dificuldades na escola, até os mais complicados, como o de alguma mulher angustiada com o marido que terá de encarar a realidade da guerra. À nova pupila, o padre explica que as cartas possuem pedidos de intermediação, com a intenção de acercar ou de aproximar a Deus, todos aqueles que lhe escrevem. "É bom que as pessoas saibam que não há nenhum filho Dele esquecido ou inútil, sendo todos àqueles com pedidos de misericórdia divina bem recebidos", explica o sacerdote. Mas nem tudo são flores na relação entre o Padre e Leila. O trabalho rotineiro - e de propósito questionável, ao menos para a mulher - fará com que Leila esconda algumas cartas, comprometendo as ações do Padre que, no fim das contas, não consegue enxergar tudo o que ela está fazendo.


O fato de ser ex-presidiária - Leila estava encarcerada por conta de um assassinato - também gerará dúvidas a respeito do caráter e da índole da nova moradora. E é justamente o clima de tensão permanente, existente em cada movimento feito por Leila em meio as árvores do jardim ou junto aos grandes cômodos da casa, que será capaz de gerar um surpreendente clima de suspense na curiosa relação entre a dupla. Algo que é reforçado pela desconfiança do carteiro que, diariamente, aparece na propriedade para entregar as novas correspondências a Jacob - o que serve também para dar uma dimensão da liderança exercida por um presbítero em uma comunidade. E, nesse sentido, o filme terá especial significado para aqueles que possuem a religião como parte importante de suas vidas - o que não impede, evidentemente, que a obra seja apreciada por todos os públicos.

Com cenários exuberantes - alguns são tão bonitos que chegam a parecer pinturas - e trilha sonora muito bem escolhida - com composições de nomes como Offenbach, Chopin, Beethoven e Haydn - essa pequena pérola é diminuta até no tamanho: 75 minutos. Como é de praxe no cinema europeu, não vemos rostos bonitos ou corpos esculturais e muito menos imagens feitas em computador. A força de uma película desse tipo está nas interpretações naturalistas, nos silêncios que muito dizem, na trilha bem pontuada, nas emanações singelas, na delicadeza dos gestos, no olhar tocante. Jacob e Leila construirão uma impactante trajetória juntos até o magnético e surpreendente desfecho, que não precisará de grandes reviravoltas ou soluções estapafúrdias para deixar qualquer espectador arrebatado. Uma pequena aula de cinema.


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