A impressão que se tem da terceira temporada de Orange is the New Black - mais uma ótima série original da plataforma de streaming Netflix - é que se vai embora todo e qualquer drama, ou mesmo algum suspense, para que haja um investimento (ainda) maior no humor. Mas isso é apenas nas aparências, já que a série criada por Jenji Kohan - que já trabalhou anteriormente como roteirista em alguns episódios de Weeds, Sex and the City e Mad About You - não deixa de discutir diversos temas relevantes para a sociedade. Algo que já vinha desde a primeira temporada, quando assuntos como preconceito racial, xenofobia, fanatismo religioso, abuso de poder e misoginia, apareciam frequentemente. Nos treze episódios que foram entregues no último dia 12 de junho, adicionam-se a esse leque, assuntos como direitos trabalhistas, aborto e estupro. Ou seja, a barra não é aliviada. Ainda que não seja tão pesada
Ainda assim, a obra - baseada no livro de Piper Kerman, a protagonista que conta a sua experiência na prisão de Litchfield -, em sua terceira temporada definitivamente parece mais "leve". Talvez como forma de compensar a tensão gerada pela perturbadora presença da personagem Vee, interpretada por Lorraine Toussant, que morre no final da segunda temporada, após tocar o terror entre as detentas. Para exemplificar o novo momento da série, basta perceber o caminho tomado pela Crazy Eyes (Uzo Aduba) que se, na primeira temporada, se apresentava como uma pessoa esquizofrênica e perigosa, agora entretêm as presas escrevendo obras de ficção científica. O mesmo vale para Dogget (Tarin Manning), a caipira que vociferava os seus evangelhos entre as presas, com a bíblia embaixo do braço, em comportamento extremista no estilo Malafaia. E que agora se torna a motorista da prisão - ainda que ela sofra um duro abuso, é preciso que se diga.
Até o retorno de Alex Vause (Laura Prepon), torna o início da temporada excessivamente açucarado, por conta do namoro com Piper (Taylor Schilling), chegando a irritar o espectador. Algo que só muda um pouco de figura com o surgimento da detenta Stella (Ruby Rose) - que parece estar em Litchfield para cumprir uma "missão" em relação a Vause - e de Tricia (Madeline Brewer), que coloca alguma pimenta na relação entre Piper e Vause. A própria Piper ocupa seu tempo na prisão trabalhando em uma fábrica de calcinhas instalada dentro de Litchfield, enxergando aí uma oportunidade de negócio. Algo que se torna engraçado pelo aspecto curioso. Pra não dizer que não há alguma tensão, há a compra da prisão por novos investidores, o que gerará alguns dissabores, a eterna briga pela cozinha entre Red (Kate Mulgrew) e Gloria (Selenis Leyva) e algumas situações episódicas, como a briga entre Gloria e Burset (Laverne Cox) ou mesmo o caso de abuso de medicamentos de Soso (Kimiko Glenn).
Como sempre acontece desde a primeira temporada, a série segue se utilizando de flashbacks pra mostrar não apenas o passado dos presos, mas também dos agentes prisionais e conselheiros. E aqui entra outra coisa que eu não entendi: a opção por dar mais espaço a personagens chatíssimas como Norma (Annie Golden), Chang (Lori Tan Chinn) e a insuportável Leanne (Emma Myles). Deixando de lado, com essa decisão, outras integrantes de Litchfield, como Boo (Lea DeLaria), Poussey (Samira Wiley) e Nicky (Natasha Lyonne), que vai pra solitária, deixando todo mundo com saudades. Bom, deve ter sido assim que as coisas aconteceram de fato. As latinas seguem promovendo alguns dos momentos mais marcantes, com o filho de Daya (Dascha Polanco) nascendo ao final da temporada. Aliás, o último episódio deixa um ponto de interrogação sobre quais os caminhos que Orange is the New Black deverá tomar para a Four Season, que já está agendada. É aguardar.
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