quarta-feira, 22 de julho de 2015

Disco da Semana - Tame Impala (Currents)

Tão legal quando ouvir os discos dos australianos do Tame Impala é ver as manifestações e reações daqueles que gostam da banda, a cada nova música, disco, videoclipe ou qualquer que seja o material lançado pelo grupo. Nooossa, esse som quase me faz ter a sensação de tocar no céu em um dia limpo, garante uma fã empolgada. Essa música é tipo amor a primeira vista, filosofa outra. Quando ouço, tenho a sensação de estar voando, complementa um terceiro. E assim vai o clima, não apenas nos dois trabalhos lançados anteriormente - os fundamentais Innerspeaker (2010) e Lonerism (2012) - mas também no recém chegado Currents. A magia é tanta entre os adeptos que a internet, universo usualmente povoado por haters, quase vai na contramão do mundo, ao possibilitar uma troca de ideias saudável, empática e quase idílica entre os envolvidos.

Tudo isso é efeito do carinho com que o vocalista Kevin Parker e seus comparsas tratam as suas composições, não olhando a elas como um veículo para o exercício de ideias individualistas ou sectárias e, sim, como manifestação artística capaz de agregar e de gerar em quem dela se apropria os mais variados sentimentos. De preferência os mais positivos, não sendo poucos os casos em que visualizamos, apenas ao ouvir os arranjos extremamente bem elaborados feitos com guitarra, baixo, bateria e sintetizadores, um eventual caminho para litoral, ou mesmo um passeio em meio a natureza, em uma estrada do interior. Algo que outros artistas modernos, como os norte-americanos do Real Estate e até mesmo nacionais, como o capixaba SILVA - especialmente em seu mais recente trabalho, Vista pro Mar -, já o fizeram, não dá pra negar, com igual qualidade.


A propósito, muitas são as comparações feitas com grandes bandas clássicas como The Beatles, na fase Sgt. Pepper's, ou mesmo Pink Floyd, no psicodélico Dark Side of the Moon. Outros artistas como Tears for Fears, Michael Jackson, Flaming Lips e, mais recentemente, Toro Y Moi, costumam aparecer entre as referências, na hora de situar a condição artística da banda. Mas é preciso que se diga que o Tame Impala tem personalidade, ainda que beba de qualquer uma dessas fontes na hora de organizar as suas primorosas harmonias - capazes de conduzir o ouvinte a um ambiente aconchegante e familiar, ainda que lisérgico. E isso ocorre justamente pelo fato de o grupo nunca soar ultrapassado ou preso a uma época hoje já distante daqueles que lhe servem como fonte. Seja por uma atualização sonora em um verso aqui, seja por um verniz mais arrojado em um arranjo acolá.

E isso também pode ser notado nas letras que, ainda que na aparência possam sugerir alguma simplicidade - especialmente pelo seu caráter popíssimo, de refrãos altamente grudentos -, no fundo reservam alguma reflexão mais profunda sobre temas como amor e vida cotidiana. Algo que pode ser percebido, por exemplo, na já clássica Cause I'm Man, em que o interlocutor pede desculpas, simplesmente por "ser homem" (Cause I'm a man, woman / Don't always think before I do / Cause I'm a man, woman / That's the only answer I've got for you). Em geral pautada pela melancolia  (The Less I Know the Better, Yes I'm Changing, Let It Happen), aparentemente mais intensa que nos trabalhos anteriores, a obra vai crescendo a cada audição. E, ao passo que nos faz viajar, também nos faz entender o por quê de o Tame Impala ser, hoje, uma das grandes bandas da atualidade.

Nota: 8,5

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