quinta-feira, 2 de julho de 2015

20 Discos do Primeiro Semestre que não Foram Resenhados no Picanha - E que Você Precisa Ouvir!

Quem acompanha o Picanha de perto, sabe: dada a quantidade de quadros do nosso estimado blogue, acabamos tendo espaço para apenas um ou no máximo dois lançamentos de discos, por semana. E isso faz com que muita coisa boa se perca sem ser analisada, citada, lembrada, criticada. Mas não para os nossos atentos ouvidos! Nesse quadro especial, selecionados 20 trabalhos que não foram resenhados por aqui, durante os primeiros seis meses do ano, mas que merecem toda a atenção. A lista é bem variada e vai de Madonna a Lower Dens. Boa leitura!

20) Madonna (Rebel Heart): A rainha do pop, todos nós sabemos, não precisa provar nada pra ninguém - e discos clássicos como Like a Virgin, True Blue e Like a Prayer falam por si. Mas a artista de 57 anos se empenha em soar moderna, ao dialogar de perto com aquilo tem sido feito na música atual, inserindo uma série de elementos eletrônicos, de R&B e de hip hop em seu novo trabalho. As 19 canções liberadas para streaming (e os extensos 75 minutos de audição) poderão soar cansativas para alguns ouvidos. Mas é inegável que ainda segue sendo muito prazeroso ouvir o que Madonna tem a nos entregar. E ela entrega o de sempre: ótimas canções pop. Melhor música: Living for Love. Ouça também: Bitch I'm Madonna e Ghosttown.


19) Holly Herndon (Platform): espécie de FKA Twigs da vez, Holly Herndon recheia o seu segundo trabalho com sons etéreos, densos e cerebrais. Misturando um vocal em muitos casos sussurrado, quase imantado a parte instrumental, a artista ainda é capaz de provocar uma nítida sensação de caos, ao colocar aqui e ali barulhos de passos, de vasos se enchendo de água, de vidros estilhaçando, de computadores em processo de funcionamento. O estilo pouco convencional certamente não é para todos os paladares. Mas quem se arriscar, mergulhará em um dos mais experimentais e inclassificáveis discos do ano. Melhor música: DAO. Ouça também: Chorus e Interference.



18) Dingo Bells (Maravilhas da Vida Moderna): ainda que não seja assim nenhum exemplar do outro mundo em termos de criatividade ou em relação ao que se tem ouvido nas últimas décadas no rock gaúcho, o primeiro trabalho da Dingo Bells merece atenção. Muito por conta do trabalho dos produtores Felipe Zancaro (Apanhador Só) e Gustavo Fruet (Chimarruts), capazes de levar o ouvinte a uma fácil navegação por meio de um conjunto de canções essencialmente pop, mas nunca vazias em seu conteúdo. O clima é colorido, a despeito da capa acinzentada, e a viagem versa sobre a vida depois dos 30 e sobre o "sentimento" dos dinossauros, entre outros. Melhor música: Fugiu do dia. Ouça também: Eu Vim Passear e Maria Certeza.


17) Will Butler (Policy): mais um exemplo de disco que deve ser ouvido muito mais pela curiosidade despertada do que pela qualidade em si do produto final. Afinal de contas, Will Butler é um dos integrantes de uma das melhores bandas do mundo, o Arcade Fire. Em sua estreia como artista solo, Butler faz um álbum enxuto, são apenas oito músicas e pouco mais de 30 minutos, e com clara inspiração no rock mais cru feito nos anos 50 e 60. Ou seja, bem distante daquilo que faz ao lado do irmão Win e de seus parceiros de grupo. A fuga em termos de estilo confere personalidade ao trabalho, nunca dando a sensação de mais do mesmo. Melhor música: Take my Side. Ouça também: What I Want e Anna.



16) Jamie XX (In Colour): a crítica tem se derretido em elogios ao falar da estreia solo do produtor Jamie Smith, ex-integrante do The XX. O londrino entrega um trabalho extremamente autoral, tendo como base uma sonoridade eletrônica, de barulhinhos, econômica nos vocais, mas grandiosa em sua proposta. Por vezes melancólico, em outras ensolarado, a impressão que se tem da obra de Jamie XX é de se ter estado durante toda uma madrugada em uma boate estilosa da capital inglesa. Experimentando desde os momentos que antecedem a festa, até aqueles que envolvem a manhã seguinte e as consequências desta. Absolutamente envolvente. Melhor música: I Know There's Gonna Be (Good Times). Ouça também: Loud Places e Gosh.


15) Courtney Barnett (Sometimes i Sit and Think, and Sometimes i Just Sit): a revista Rolling Stone Brasil fez uma matéria com Courney Barnett, intitulada Canções Sobre o Nada. E é exatamente isso. Num estilo meio Seinfeld, a australiana canta sobre banalidades do cotidiano, muitas delas relacionadas a vida dos jovens como ela, que possui apenas 27 anos. Algo que pode ser percebido já na capa do disco, ou mesmo no título das composições - uma delas se chama Nobody Really Cares if you Don't Go to the Party. Pode ser mais ilustrativo? Barnett canta como uma espécie de Sheryl Crow, mas passa seu recado. Melhor música: Debbie Downer. Ouça também: Dead Fox e An Ilustration of Loneliness (Sleepless in New York)


14) Kendrick Lamar (To Pimp a Butterfly): Kendrick Lamar, como muitos jovens negros dos Estados Unidos, não teve infância fácil. Viu uma pessoa ser assassinada quando tinha apenas cinco anos de idade, viu seu pai se envolver com gente da pesada e dormiu em hoteis baratos ou mesmo no carro da família, por não terem dinheiro para pagar um apartamento. Fora o assédio diário para que entrasse na marginalidade ou mesmo o preconceito, muitas vezes vindo de policiais, simplesmente por ser negro. Mesmo curta, a vida está sendo vivida com intensidade, o que se traduz nesse trabalho que explora e amplia esses temas, um dos mais elogiados do ano até agora. Para quem entende inglês, é uma pérola atrás da outra. Melhor música: King Kunta. Ouça também: u e Hood Politics.


13) Lower Dens (Escape from Evil): o Lower Dens parece dialogar com várias bandas, em muitos casos lembrando grupos oitentistas como o The Smiths e em outros bandas de post-punk modernosas como Interpol. O clima é um tanto soturno, bem distante do colorido dos bloquinhos que ilustram a capa. O estilo shoegaze domina e faz pensar que, se ainda existisse um programa como o Lado B, da finada MTV, o quinteto de Baltimore, Maryland, seria figurinha carimbada. Ainda assim há espaço para um pop eventual, feito com base em guitarras marcantes e sintetizadores discretos. Melhor música: Ondine. Ouça também: Non Grata e Your Heart Still Bleading.



12) Tulipa Ruiz (Dancê): Medida, forma, direção / Proporcional aos fatos / Gostar assim sem previsão / É normal nesse caso / Aconteceu de caber / Coube em mim. Coube em você / Calhou de encaixar legal / Envergadura, estatura, peso e tal / Visto GG, você P. Tulipa está safadinha no disco Dancê, o que pode ser percebido nesse trecho da fantástica Proporcional. Apenas uma entre tantas gemas pop dessa que é uma das principais artistas brasileiras da atualidade. O disco é puro balanço, brasileirismo, sensualidade. Tem participação de João Donato e Felipe Cordeiro, entre outros músicos de renome.  A artista canta firme e faz o ouvinte suar. E dançar. Melhor música: Tafetá. Ouça também: Proporcional e Prumo.


11) Natalie Prass (Natalie Prass): a maior força de Natalie Prass, em sua surpreendente estreia, é a sua potente voz. Aos 29 anos, a artista americana canta fazendo lembrar muitas artistas - de Kate Bush a Diana Ross. De Edith Piaf a Tori Amos. O que não é pouca coisa. As letras tem lá seu romantismo, mas nunca soam piegas. Our love is like a long goodbye / We keep waiting for the train to cry, canta a artista em My Baby Don't Understand Me. O Pitchfork, um dos mais conceituados sites sobre música dos Estados Unidos, classificou o trabalho como Best New Music, dando nota 8,3. O que não deixa de ser uma baita credencial, caso alguém ainda tenha dúvidas sobre as qualidades da moça. Melhor música: It Is You (aliás, uma das melhores músicas do ano!). Ouça também: Bird Of Prey e My Baby Don't Understand Me.


10) Christopher Owens (Chrissybaby Forever): há até pouco tempo, Owens esteve a frente de uma das mais inventivas bandas do rock atual, o Girls. Agora, em carreira solo, o americano esbanja produtividade ao chegar ao terceiro álbum em pouco mais de dois anos. O clima é o mesmo do de seu grupo anterior: canções ensolaradas, altamente melodiosas e emocionais, instrumental econômico, vocal ao mesmo tempo tímido, mas vívido, e aquele clima nostálgico ou mesmo de fim de tarde, como se já tivéssemos escutado aquela canção anteriormente. Melhor música: Another Fucked Loser Up. Ouça também: Music of My Heart e Out of Bed (Lazy Head).



9) Speedy Ortiz (Foil Deer): a banda de Northampton, Massachussets, foi feita sob medida para quem gosta do estilo noventista de grupos como Pavement, Elastica e The Breeders. Sem soar ultrapassado por causa disso o quarteto, capitaneado pela vocalista Sadie Dupuis, atualiza o estilo, entregando para novos ouvintes um modelo que foi muito utilizado naquela década. O que pode possibilitar inclusive um resgate do estilo, em uma espécie de contramão daquilo que vem sendo feito na música atual. O clima é garageiro e a música tem personalidade. O que já ajuda muito. Melhor música: Raising the Skate. Ouça também: Homonovus e The Graduates.



8) Girlpool (Before the World Was Big): está sendo um ótimo ano para as RRRRRiot girls. Depois dos recentes lançamento de Sleater Kinney - aliás, No Cities to Love é candidato CERTO a figurar entre os melhores trabalhos do ano - e Veruca Salt - agora é a vez da dupla de Los Angeles lançar seu primeiro disco. A banda ficou muito conhecida no meio alternativo, após o lançamento do EP homônimo, em 2013 - muito por conta do megahit (se é que podemos chamar assim) Blah Blah Blah. No álbum de estreia as meninas tiram um pouco o pé do acelerador no punk rock, mas ficam acima da expectativa na qualidade sonora. Melhor música: Ideal World. Ouça também: Dear Nora e Before the World Was Big.



7) Sufjan Stevens (Carrie & Lowell): tenho de confessar a vocês o fato de não ser nenhum especialista em Sufjan Stevens. Mas o clima "Simon & Garfunkel na depressão" desse trabalho, um dos fortes candidatos a disco do ano - Pitchfork deu nota 9,3 - ganha qualquer ouvinte. A mãe de Stevens (a Carrie do título) teve uma vida problemática, por conta de um comportamento esquizofrênico e bipolar e também pelo uso abusivo de álcool e drogas. E a relação complicada com o padrasto Lowell também não ajudava muito. No disco o músico abre o coração e narra essa história, em clima intimista, com versos recheados de mensagens sinceras. E emocionantes. Melhor música: Should Have Known Better. Ouça também: Death With Dignity e All of Me Wants All of You.


6) Lenine (Carbono): poucos artistas brasileiros (e atuais) conseguem traduzir tão bem a amplitude de significados da música nacional como Lenine. Suas canções são ao mesmo tempo regionalistas e universais, simples e complexas. O mesmo vale para suas letras, para a estética adotada em cada trabalho, para a sonoridade. No seu mais recente álbum, o artista utiliza o carbono - elemento que compõe basicamente toda a matéria - como uma metáfora as coisas que parecem simples, mas no fundo guardam certa complexidade. O cantor - que é engenheiro químico, nunca é demais lembrar! - se reúne com grandes nomes nacionais, sendo a Nação Zumbi o mais marcante. E lança um discaço. Melhor música: Cupim de Ferro. Ouça também: A Meia Noite dos Tambores Silenciosos e Simples Assim.


5) Purity Ring (Another Eternity): o primeiro disco do duo canadense, intitulado Shrines, já era uma verdadeira pérola da música pop futurista, com batidas eletrônicas, clima gélido, sintetizadores certeiros como que vindos de outro planeta. Com o segundo trabalho, a banda consegue não apenas ampliar o seu espectro, como ainda se aproximar do grande público, por meio de canções feitas sob medida pra tocar em qualquer rádio mais antenada. O estilo varia, chegando muito perto do trip hop e do R&B. E a voz de Megan James é tão doce, formando um interessante controponto, que um ouvinte desavisado até poderia confundi-la com alguma outra cantora pop atual. Melhor música: Bodyache. Ouça também: Heartsigh e Stranger Than Earth.


4) Laura Marling (Short Movie): aaah, se o Mumford and Sons conseguisse fazer música folk simples, direta e sem firulas, como faz a compositora Laura Marling. Em seu quinto álbum de estúdio a cantora mantém a qualidade habitual, deixando um pouco de lado os acenos folk de outrora, que faziam parte da crítica compará-la a Joni Mitchel. Não que os arranjos tenham mudado muito, mas a impressão que temos é de uma artista muito mais em contato com o rock - e por quê não, o pop. Tudo fruto de uma espécie de "período sabático" que a inglesa foi passar nos Estados Unidos, após anunciar estar meio cansada do mainstream. Melhor música: Gurdieff's Daughter. Ouça também: I Feel Your Love e Warrior.



3) Toro Y Moi (What You Want?): Chazwick Bradley Bundick, o músico e produtor por trás do projeto Toro Y Moi deve ter passado os últimos meses se entupindo de audições de bandas como Big Star, Teenage Fanclub, Wannadies e Real Estate. O estilo ensolarado até não foge tanto assim do chillwave, vertente a qual o artista é normalmente ligado. Mas, definitivamente, representa uma mudança de rumo e até mesmo uma tentativa de se aproximar de um outro tipo de público.A crítica não foi lá muito com a cara, mas pra quem gosta do estilo ensolarado dos grupos citados no início desse parágrafo - eu, entre eles! - a atual fase é um prato cheio. Melhor música: Spell It Out. Ouça também: Buffalo e Empty Nesters.


2) Best Coast (California Nights): melhor coisa do mundo quando uma banda consegue fazer um pop gostoso, com letra simples, refrão marcante e todos os elementos capazes de arrebanhar ouvintes mundo afora. Ainda mais pelo fato de hoje em dia haver um certo "ranço" por parte da crítica, aberta exclusivamente aos grupos excessivamente "cabeças" (e chatos), deixando para o plano inferior os artistas que, na aparência, não são assim tão elevados artisticamente. E quem lá quer ouvir música complexa o tempo todo? Pois os californianos, com seu estilo leve, colorido, de melodia praiana e versos juvenis, consiste-se em uma das bandas mais legais da atualidade. Vai por mim. Melhor música: Run Through My Head (mais uma pra estar entre as melhores do ano). Ouça também: Jealousy e Feeling Ok.


1) Shamir (Ratchet): responsável pelo melhor disco do ano até agora - tá empatadinho com I Love You, Honeybear, do Father John Misty - o cantor e produtor Shamir Bailey (ou apenas Shamir), tem apenas 21 anos. Mas canta como gente grande. Imagine você um inusitado encontro entre Michael Jackson, Janis Joplin e Outkast. Com uma pitada de modernosos como Psy. O resultado é um trabalho altamente dançante, cheio de groove, de batidas bem arranjadas, de hip hop. Algo que pode ser percebido, inclusive, na capa. As letras são sacanas, bem-humoradas e altamente diversificadas nos temas. We were fit for survival, no books but the Bible / Held out with a gun canta Shamir na ótima Demon. E o povo na pista dança noite adentro. Melhor música: Demon. Ouça também: Call it Off e On the Regular.


Pra conferir as resenhas (com nota e tudo!) feitas aqui no Picanha é só clicar nesse link! Lá tem Muse, Blur, Brandon Flowers, Comunidade Nin-Jitsu, Mumford & Sons, Alabama Shakes, Passion Pit, Death Cab for Cutie, Wado, Noel Gallagher's High Flying Birds, The Decemberists, Wander Wildner e muito mais!

Nenhum comentário:

Postar um comentário