Vamos combinar que a espera por um novo disco do paulista Rafael Castro valeu a pena. São nove anos desde Um Chope e Um Sundae (2015) que, a despeito de ser um trabalho divertido - aliás, marca registrada do artista -, parece produto de uma época que não existe mais. Um período mais ingênuo talvez. Em que assuntos políticos, sociais e religiosos mal e mal apareciam - e é difícil ignorar esses temas hoje em dia. Com Vaidosos Demais, o músico retorna em boa forma, apostando em letras ácidas, provocativas e em uma mescla de estilos que vai no limite entre o brega o o indie. A abertura, com a engraçadíssima Bar e Lanches, já dá o tom, ao dar aquela avacalhada na cultura hipster branquela de classe média, com seus hábitos gourmetizados e afetações de todo o tipo, mas que pagam vale de bacanas frequentando locais "raiz" (Um pico bom pra ser descoladex / E postar que é bom demais se misturar).
Na sequência, O Algoritmo Te Escolheu mira seu alvo no ambiente digital e na eterna busca dos influenciadores de nicho por holofotes - com suas fotos hipersexualizadas, postagens higienizadas e publis insípidas -, em um universo de vale-tudo pela fama, pelo clique e pelo like a qualquer preço. Tema que, de forma complementar, também é discutido na urgente Fiscal de Foda. A hipocrisia da religião (Nunca em Nome da Satã), os equívocos do progressismo cirandeiro (A Esquerda Errou Nesse Sentido) e até a impertinência repetitiva do telemarketing (Pessoal da Claro), nada escapa da caneta zombeteira do artista, que constroi uma experiência caótica e diversa, que funciona como uma coleção heterogênea de pequenos instantes sonoros sobre a agitada vida contemporânea. Gravado em apenas 15 dias, o trabalho até perde um pouco de força na sua segunda metade, justamente quando Castro resolve falar um pouco mais sério. Mas nada que comprometa.
Nota: 8,5
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