"Em nossa casa podia faltar manteiga, mas nunca faltaria um livro". A frase dita por Cátia de França em mais de uma entrevista, serve pra dar conta da importância não apenas da educação, mas também da cultura em sua vida. Sua mãe, Adélia de França - a primeira professora negra da Paraíba -, sempre manteve a humilde residência da família "alimentada" por nomes como João Cabral de Melo Neto, Guimarães Rosa e José Lins do Rego. E toda essa bagagem literária - que se une a uma formação musical completa -, permite à artista, atualmente com 77 anos, a construção de verdadeiros poemas em forma de canção, como aqueles que podem ser vistos no recente disco No Rastro de Catarina, o oitavo da carreira da compositora. Unindo passado e presente e resgatando memórias que permanecem atuais, o projeto mescla pop, rock, reggae, bolero, samba e outros ritmos, traduzindo em alguma medida as incertezas dos nossos tempos.
No material de divulgação, é possível perceber como a musicista vai de lá para cá em canções compostas em fases distintas de sua vida. Nesse sentido, se o hino feminista Espelho de Oloxá, escrito em 2017, segue mais necessário do que nunca ("No meio da praça, que existe aqui dentro / Me vejo em protesto, nem tô me cabendo / Demandas do mundo, me importo, pertenço / Creio piamente na mudança dos ventos"), outras, como a tocante Malakuyawa, de 1989, segue atemporal em sua minuciosa análise da velhice e da beleza proveniente desse acúmulo de experiência (Essa pele enrugada / É como trilha, mapa revelando um País / A veia rosada é como sede / A vida sábia é feliz). Assuntos ligados ao absurdo da guerra (Bósnia), à questões raciais (Negritude) ou mesmo à saudade de um amor lésbico ausente (Indecisão), se espalham entre guitarras primaveris e percussões potentes, em um dos grandes registros da temporada. Vale conferir!
Nota: 8,5
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