terça-feira, 23 de janeiro de 2024

Pitaquinho Musical - Bill Ryder-Jones (Iechid Ya)

Uma mistura de Arcade Fire com Mercury Rev - especialmente o da fase Deserter's Songs (1998) -, adicionada de um tequinho de MPB e muito provavelmente teremos o resultado, em termos de sonoridade, do que é Iechid Ya, o quinto disco de Bill Ryder-Jones em carreira solo. Ex-integrante do The Coral, o artista inglês elabora, aqui, uma coleção de canções que evoluem para além do folk mais simplificado visto em trabalhos anteriores - caso de Yawn (2018) -, para adicionar uma série de outros ingredientes. O resultado são canções que vão no limite entre o onírico e o agridoce, o nostálgico e o encantador - o que pode ser percebido já na inaugural I Know That It's Like This (Baby), uma música que homenageia a ex-namorada, a brasileira Christinha (o que também explica a presença do sampler de Baby, entoado por uma Gal Costa que parece diluída no mundo dos sonhos).

 



Em linhas gerais esta também é uma obra de contrastes. Se por um lado as letras podem pender pra certo existencialismo, como no caso do single If Tomorrow Starts Without Me  (Valeu a pena esperar? / Quanto isso vale para você? / E parece bom estar de passagem), uma música sem refrão e imersa em uma sofisticação pegajosa, por outro o coralzinho infantil que surge na ótima We Don't Need Them insere um componente meio lúdico à coisa toda. Sentimento ampliado pelo tambor de fanfarra, pelo pianinho agridoce e pelo refrão popíssimo. Mas o brilho mesmo vem de composições angustiadas, meio empoeiradas, que versam sobre as lutas para manter sanidade mental (não podemos esquecer que depois do último disco houve uma tal de pandemia), e que dialogam com o melhor da psicodelia noventista, casos de This Can't Go On e e Thankfully for Anthony (esta última, sério, será a melhor do ano).

Nota: 8,5


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